Exclusivo: Ratos acuados são perigosos porque atacam, por Jean Wyllys

"Não há governo federal, mas, sim, uma organização criminosa perigosa desde sempre"

Foto: Reprodução/TV Globo
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A essa altura do campeonato já não resta mais dúvida para ninguém que o governo Bolsonaro está eivado por membros de organizações criminosas. Investigações da polícia e da imprensa livre dão conta de que a família Bolsonaro tem ligações estreitas com as milícias, organizações mafiosas que têm, entre seus negócios, o assassinato de pessoas sob encomenda. A pandemia de Covid-19 expôs a tremenda incompetência desses criminosos na gestão da saúde pública, e os cadáveres das vítimas da doença se multiplicam em valas comuns. A Covid-19 expôs não só a incompetência dessa gente, mas sobretudo seu caráter maligno, na medida em que ela convoca os trabalhadores a interromperem o isolamento social e se exporem ao novo coronavírus. A Covid-19 acuou os ratos do governo Bolsonaro e precipitou a debandada de sócios importantes que não querem carregar os cadáveres da doença nas costas e almejam se reabilitar para as eleições de 2022: Mandetta e Moro, por exemplo. Essa debandada aguçou a guerra das facções que compunham esse governo em deriva fascista desde o início. A mesma imprensa que alimentou os ratos acreditando poder controlá-los pode acuá-los com o advento da Covid-19, e não só em função da incompetência do presidente em lidar com esta doença, mas a partir de informações importantes - obtidas em investigações da polícia civil do Rio de Janeiro e da Polícia Federal (há dois anos sob a gestão de Sergio Moro) - que dão conta do envolvimento direto de Flávio Bolsonaro em negócios da milícia no Rio e o envolvimento do enrustido Carlos Bolsonaro num esquema de produção e divulgação de fake news e calúnias para assassinar a reputação de ministros do Supremo Tribunal Federal e outras autoridades da República, como os presidentes da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia e David Alcalumbre, respectivamente. Sergio Moro, para salvar sua biografia enlameada pela participação direta nesse governo de criminosos perigosos, acusa o presidente da República de tentar intervir nas investigações da Polícia Federal que apontam as ligações de seus filhos com o crime organizado, o que acuou ainda mais os ratos. Acontece que, acuados, ratos se tornam mais perigosos porque atacam. E o taque dos ratos veio. Investir de novo nas calúnias abjetas de que 1) eu teria ligação com o sujeito que desferiu a suposta facada em Bolsonaro durante a campanha de 2018 e 2) de que eu teria vendido meu mandato ao jornalista Glenn Greenwald é a forma que os ratos do governo Bolsonaro encontraram de atacar Sergio Moro, cúmplice deles até ontem, e de mobilizar suas hostes de fanáticos violentos nas mídias sociais e na vida. O objetivo último da recuperação dessas calúnias na forma de fake news (notícias falsas) é atacar Sergio Moro por meio da recorrência a uma mentira infame que interpela a homofobia da manada de imbecis bolsonaristas e outras pessoas. Assim, além de atingir Moro, considerado por eles agora um traidor, eles atingem toda a oposição política ao fascismo ao investirem mais uma vez contra mim, Glenn Greenwald e David Miranda, não por acaso, três homens gays. Um perfil falso em nome do indicado pela família Bolsonaro para presidir a Polícia Federal no lugar de Sergio Moro - Alexandre Ramagem - se encarregou de lançar suspeita sobre a gestão do antecessor, recuperando, num tweet, uma mentira que me envolve. Na sequência, a parte da organização criminosa encarregada de comandar as ações de bots e perfis fakes nas mídias sociais iniciaram o ataque para mobilizar a manada. O tweet do “falso” Alexandre Ramagem é explícito o suficiente para permitir que perfis verdadeiros de parlamentares bolsonaristas se encarreguem de completar a mentira e divulgá-la amplamente com insultos terríveis a mim Ainda ontem à noite, em meio a uma conversa pelo Twitter com um amigo, fui interpelado por um perfil com 1 (um seguidor) e seguindo 1 (uma) pessoa (vejam na imagem) me ameaçando de morte e reproduzindo a mentira. Já se tratava do trabalho de Carluxo, homossexual enrustido e psicótico obcecado por mim e por Glenn Greenwald. Aliás, a julgar Alexandre Ramagem pelo álbum de família que circula na internet, pode-se dizer que ele não só é íntimo dos Bolsonaro como integra essa maçonaria de homens sexualmente ansiosos. A revelação de que se tratou de um perfil “falso” de Ramagem demorou o suficiente para que a mentira se espalhasse e fosse tomada como verdade pelos imbecis bolsonaristas, que passaram a me insultar e me ameaçar com mais intensidade desde ontem. É assim que funciona o esquema das fake news. O anedótico nessa situação perigosa (a saber, a tentativa de transformação da Polícia Federal numa espécie de Gestapo, a polícia política de Hitler na Alemanha Nazista) é que ela é fruto direto da prevaricação de Sergio Moro, agora também sob ataque da rede de calúnias, fake news e ameaças de morte comandadas pelos Bolsonaro e seus cúmplices. Antes de denunciar as ameaças de morte contra mim - frutos também de uma sórdida campanha de difamação perpetrada por criminosos bolsonaristas (MBL, Nas Ruas, Vem pra Rua, Revoltados Online, Terça Livre, Nando Moura, Malafaia e candidatos do PSL, entre os quais se destacavam Joice Hasselmann, Carla Zambelli, Alexandre Frota e outros escroques que surfaram na onda do antipetismo insuflado sobretudo pelo jornalismo da rede Globo) - à Comissão Interamericana de Direitos Humanos da OEA e de decidir deixar o país para não ter o mesmo destino de Marielle Franco, executada a sangue frio por sicários diretamente ligados à família Bolsonaro, antes disso, eu fiz 17 denúncias à Polícia Federal. Já como ministro da Justiça, quando interpelado pela imprensa sobre as ameaças contra mim, Sergio Moro minimizou a questão. Quando o perfil apócrifo Pavão Misterioso, criado e operado pelo “Gabinete do Ódio” comandado por Carlos Bolsonaro, vulgo Carluxo, começou a espalhar as calúnias contra mim, David Miranda e Glenn Greenwald como forma de desautorizar a #VazaJato (a série de reportagens de The Intercept que mostrou que a Lava Jato não passou de um complô político do ex-juiz e de membros do Ministério Público Federal para tirar Lula da corrida eleitoral), Sergio Moro não só convenientemente se calou diante dessas mentiras e ameaças, como ele mesmo buscou desacreditar Glenn Greenwald com a cumplicidade de sabujos antipetistas na imprensa comercial, a exemplo de Vera Magalhães, que mais tarde se tornaria ela mesma um alvo da rede bolsonarista de mentiras e calúnias, depois de as jornalistas Patrícia de Mello Campos e Miriam Leitão terem sido também atacas. Sergio Moro se manteve calado e inerte enquanto a violência política perpetrada pelos bolsonaristas escalava aos céus. Esta violência ganha contornos mais perigosos. O que se pode esperar de um diretor-geral da Polícia Federal que já chega ao cargo com o nome envolvido numa mentira descarada criada para prejudicar inocentes? Que autoridade da República ou jornalista poderá se sentir segura doravante tendo um sujeito desses na direção da Polícia Federal? E se, num futuro breve, o Gabinete do Ódio decidir usar seu nome para acusar injustamente ou assassinar membros de minorias sociais como os pretos, gays e lésbicas, judeus e orientais (não se esqueçam de que os imbecis bolsonaristas chamam o novo coronavírus de “vírus chinês”!) apenas por preconceitos contra estes? Como movimentos sociais do tipo do MST, do MTST, do movimento negro e de ambientalistas poderão se sentir seguros com um sujeito desses no comando da PF? Como os artistas e intelectuais se sentirão livres para suas pesquisas e criações com ele à frente da Polícia Federal? Não há governo federal, mas, sim, uma organização criminosa perigosa desde sempre; uma máfia nefasta encabeçada por essa família medonha, mas integrada também por outros escroques, muitos deles acastelados em igrejas-empresas neopentecostais e nos parlamentos. As perguntas finais são: Sergio Moro (o pai do monstro), a Rede Globo, a Folha de S. Paulo, o Estadão, cujos jornalistas são também alvo de calúnias e ameaças por parte dos bolsonaristas, as instituições da sociedade civil (OAB e ABI), o Ministério Público e, principalmente, a imprensa independente, os intelectuais, os artistas e os parlamentares do campo democrático e seus partidos, sobretudo o PT, PSol, PC do B e PDT, mais uma vez cruzarão os braços, por pura homofobia social e institucional, diante de mais um ataque vil à minha pessoa e às pessoas de Glenn Greenwald e David Miranda? Quando vão atender que o ataque a nós é, na verdade, um ataque a todo campo democrático?
*Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.