Farc e narcotráfico: Bolsonaristas importam fake news contra o PT da Espanha

Jornal da Record veiculou entrevista com influenciadora de extrema-direita espanhola, conhecida por divulgar fake news contra a esquerda e investigada por discurso de ódio

A espanhola de extrema-direita Cristina Seguí, conhecida por espalhar fake news contra a esquerda (Reprodução)
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Bolsonaristas, a partir de uma matéria veiculada pelo Jornal da Record, da emissora do bispo Edir Macedo, na noite deste sábado (9), estão importando uma fake news da Espanha para atacar o PT.

O telejornal exibiu uma entrevista com Cristina Seguí, influenciadora e "analista política" ligada à extrema-direita espanhola, que acusa o PT e partidos de esquerda na Espanha e na América Latina de terem ligações com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e com o narcotráfico.

"Puxa, só porque o PT é ligado às FARC via Foro de São Paulo, e as FARC são narcotraficantes, vocês querem concluir que o PT é ligado ao narcotráfico? Nada a ver! Parem com essas teorias da conspiração!", escreveu, por exemplo, a deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP) ao divulgar o vídeo com a matéria da Record, em meio a inúmeras postagens de bolsonaristas sobre o mesmo tema.

Seguí afirmou na entrevista que o governo espanhol, de centro-esquerda, além de "políticos e personalidades lulistas do PT" ajudaram a acobertar venezuelano Hugo Carvajal no período em que esteve foragido. Carvajal é ex-chefe de inteligência do governo de Hugo Chavez na Venezuela e foi preso há um mês, em Madri, sob a acusação, por parte dos Estados Unidos, de ligação com o narcotráfico e com as Farc.

Ela conta ao jornal da Record ainda que o Centro de Inteligência da Espanha, que teria acobertado o venezuelano, seria administrado "por partidos socialistas financiados pelo narcotráfico da América Latina e ainda teve ajuda de empresários portugueses". Segundo a influenciadora de extrema-direita, Carvajal ainda teria entrado no Brasil para "fazer cirurgias plásticas com apoio de políticos lulistas".

Todas as declarações de Seguí foram dadas desacompanhadas de qualquer tipo de prova. Além disso, o Jornal da Record não divulgou a nota enviada pelo ex-presidente Lula negando as acusações.

"O ex-presidente Lula foi investigado, teve todos os seus sigilos quebrados e nenhuma irregularidade foi encontrada. Venceu na justiça todas as falsas acusações feitas contra ele. Lula não tem nenhuma condenação e tem plenos direitos políticos", diz o texto da assessoria do petista.

À coluna de Maurício Stycer, José Chrispiniano, assessor de Lula, afirmou que "a emissora veiculou uma acusação sem provas, sem nenhuma base, feita por uma agente política de um outro país com vinculação à extrema direita. Se a Record quisesse mais informações, podia pedir".

Fake news e discurso de ódio

A difusora da fake news importada por bolsonaristas, Cristina Seguí, é uma "influenciadora" conhecida na Espanha por espalhar notícias falsas e encampar discurso de ódio contra o governo espanhol, de centro-esquerda.

Ela é fundadora de uma unidade regional do Vox, partido de extrema-direita da Espanha, e é investigada desde abril pela Procuradoria do Estado do país europeu.

Ela é acusada pelo PSOE, partido do presidente Pedro Sánchez, de calúnia e fake news nas redes sociais, promovendo "uma grave ruptura da convivência e da ordem constitucional, incitamento ao ódio, discriminação por motivos ideológicos, visto que procuram o ataque aos socialistas o pensamento político e sua gestão, incompatíveis com a tolerância e a convivência, o respeito pelo diferente".

Seguí já foi tema de reportagens na mídia portuguesa por difundir fake news contra autoridades do país. "Antifeminista e anticomunista, amplificadora de teses conspirativas e fake news, a antiga coqueluche do partido espanhol de extrema-direita "Vox", Cristina Seguí começou agora a atacar também figuras portuguesas", diz, por exemplo, uma matéria do portal de notícias SAPO, publicada na última sexta-feira (8).