Gilmar Mendes: “Ser aplaudido por manter suspeitos na cadeia não é fazer um bom o trabalho”

Afirmação foi feita alguns dias depois de o ministro conceder pela terceira vez um habeas corpus ao empresário Jacob Barata Filho, conhecido como o "Rei do Ônibus" no Rio

Brasília - Presidente do TSE, Gilmar Mendes, faz balanço dos trabalhos do tribunal e apresenta dados sobre prestações de contas de campanhas referentes às eleições municipais deste ano (Marcelo Camargo/Agência Brasil)
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Afirmação foi feita alguns dias depois de o ministro conceder pela terceira vez um habeas corpus ao empresário Jacob Barata Filho, conhecido como o "Rei do Ônibus" no Rio Da Redação* O ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Gilmar Mendes afirmou nesta segunda-feira (4) que ser aplaudido por manter suspeitos na cadeia não é fazer um bom o trabalho. Ele disse ainda que os juízes devem "nadar contra a corrente" para garantir direitos fundamentais, inclusive a presos e investigados. A afirmação foi feita em seminário no STJ (Superior Tribunal de Justiça) que teve o ativismo judicial como tema, e alguns dias depois de o ministro conceder pela terceira vez um habeas corpus ao empresário Jacob Barata Filho, conhecido como o "Rei do Ônibus" no Rio. Para o ministro, aqueles que criticam as decisões favoráveis a investigados esquecem que podem, eventualmente, estar um dia no papel de alvo das investigações. "Muitas vezes, a garantia de direitos está na contrariedade de opiniões. Ao se fazer a defesa de direitos, às vezes de forma estritamente conservadora, nós estamos protegendo aquele indivíduo que nos apedreja, porque quando você cria um Estado autoritário, com generalização de prisões preventivas, e as pessoas aplaudem, elas esquecem que amanhã será a vez delas", disse sem citar o nome de Barata Filho ou de nenhum outro investigado. Barata Filho é acusado de pagar propina a políticos do Rio. Neste terceiro pedido de prisão, a Procuradoria Regional da República afirmou que ele continuava agindo no controle de suas empresas, embora estivesse proibido por medidas cautelares. Em seu despacho, Gilmar Mendes alegou que os documentos não provam essa acusação. No evento de hoje, Gilmar afirmou que a defesa dos direitos, que beneficiam também os investigados, é uma forma de controlar abusos da polícia e do Ministério Público. "Quando falhamos no controle, nós incentivamos abusos da polícia, incentivamos abusos do Ministério Público. Então precisamos ter essa noção de que nadar contra a corrente não é apenas uma sina nossa, é nosso dever", disse. "Se nós estivermos sendo muito aplaudidos porque estamos prendendo muito, porque negamos habeas corpus, desconfiemos, nós não estamos fazendo bem o nosso job [trabalho, em inglês]. Certamente falhamos", afirmou o ministro. Relação polêmica As solturas de Barata Filho autorizadas por Gilmar Mendes foram alvo de polêmicas após a divulgação de que o ministro e sua mulher, a advogada Guiomar Mendes, são próximos da família do empresário e teriam sido padrinhos de casamento da filha dele. O ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot chegou a pedir a suspeição, o impedimento e a nulidade das decisões de Gilmar Mendes no caso. A nova procuradora-geral, Raquel Dodge, porém, pediu vista (mais tempo para analisar o caso) na ação que já estava no STF e ainda não devolveu o processo. *Com informações do UOL Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil