Haddad: "Bolsonaro cometeu crimes de responsabilidade suficientes para impeachment"

Em entrevista, o ex-ministro da Educação comenta a gestão atual, a crise do coronavírus e e diz que Weintraub é "o principal candidato ao pior ministro do pior governo da história"

Foto: Lula Marques
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Em entrevista ao site Metrópoles, Fernando Haddad declarou que o presidente Jair Bolsonaro cometeu crimes de responsabilidade suficientes para um impeachment juridicamente embasado. “A renúncia seria um processo menos traumático, lógico. Por isso, o aceno para que ele reconheça a sua incapacidade de gerenciar o país neste momento”, disse Haddad sobre um manifesto, assinado por ele, para que o presidente deixe o cargo.

Para Haddad, a pandemia de coronavírus desequilibrou a gestão do atual presidente. “Desde o resultado eleitoral, eu disse que via esse governo como uma geringonça com três núcleos, um autoritário, um fundamentalista e um neoliberal, e que, em cima dessas três vertentes, Bolsonaro poderia ter estabilidade, apesar da falta de harmonia e de coordenação. Mas a pandemia muda tudo, porque exige coordenação”, declarou ele.

Sobre a participação do presidente no ato do último domingo, Haddad disse: "a minha impressão é a de que o discurso do Bolsonaro não é institucional, nem mesmo para as Forças Armadas. Não é dirigido às Forças Armadas como instituição. Como todo discurso protofascista, é dirigido a pessoas semiorganizadas. É dirigido a milícias, membros insubordinados de determinadas corporações, membros insubordinados das polícias, por exemplo". E seguiu: "Um golpe clássico, dessa natureza, exigiria, inclusive, respaldo internacional. Eu duvido que uma solução de força em um país da importância do Brasil teria respaldo internacional, mesmo dos americanos, que estão envoltos em uma eleição presidencial. O discurso dele é fascista. Ele dialoga com esses radicais livres que existem em todo lugar".

Sobre os equívocos cometidos pelo presidente na gestão da crise do coronavírus, Haddad diz que ninguém nega a complexidade da situação. "Tem sido complexo enfrentá-la em qualquer lugar do mundo. A finalidade do isolamento é achatar a curva [de contágio] para não sobrecarregar a infraestrutura de saúde enquanto se expande essa infraestrutura. Agora, se você não faz essa expansão, as pessoas começam a duvidar do próprio isolamento, da eficácia das medidas. Aí você tem o pior dos mundos, porque você não tem nem uma coisa nem outra.". Sobre as falas de Bolsonaro, Haddad declarou que "o presidente tem um discurso equívoco e nem os seus correligionários se entendem sobre isso. Em um dia, ele diz que o isolamento não funciona, que todo mundo vai pegar [o coronavírus] e quem tiver de morrer vai morrer. No outro, a principal deputada dele no Congresso diz que estão sendo enterrados caixões vazios. Não existe um discurso único do governo em área nenhuma. É um governo que está deliberadamente jogando na confusão. Porque é a confusão que insufla uma base quase irracional do seu eleitorado, cuja adesão se explica muito mais por fatores emocionais do que racionais".

Ao ser perguntado se o país aguenta passar por outro impeachment, Fernando Haddad diz que essa é situação nova, já que ao mesmo tempo, não há possibilidades de se chamar atos de rua, para não causar aglomeração, mas a situação política está se deteriorando. "E só não piora mais pela ação da oposição. É incrível isso, mas, se não fosse a oposição, nós não teríamos os 600 reais garantidos às famílias, não teríamos aprovado no Senado o apoio emergencial a estados e municípios e, provavelmente, se não formos nós, da oposição, não haverá apoio para micro e pequenas empresas. Quem está salvando o governo é a oposição", afirma o ex-candidato à presidência. "A renúncia seria um processo menos traumático, lógico. Por isso o aceno para que ele reconhecesse a sua incapacidade de gerenciar o país neste momento. Mas acho que, antes de tudo, a oposição tem demonstrado responsabilidade em tudo, tanto no Congresso quanto no Judiciário ou nos manifestos endereçados ao Executivo. São os governadores de oposição e as bancadas de oposição que estão fazendo a diferença nesse momento", diz Haddad.

Perguntado sobre 2022, Haddad respondeu: "O Bolsonaro transformou o ontem num dia muito distante. Se ontem está distante, imagine daqui a dois anos. Em 2016, eu ousei prever 2018 dizendo que a extrema-direita tinha um caminho pavimentado pela frente e que, se a esquerda não tomasse cuidado, era a direita que iria enfrentar a extrema-direita no segundo turno". Ele também declarou que difícil prever que a intenção de voto no Lula iria crescer depois da sua prisão e que, do ponto de vista da ciência política, foi algo bastante incomum. "Toda a trama era para que a centro-esquerda não estivesse representada no segundo turno de 2018. Para 2022, é muito difícil prever agora".

E frisou, sobre as candidaturas futuras: "Temos de recuperar os direitos políticos do Lula, agora tem a decisão do Supremo, que deve ocorrer até o final do ano, sobre a suspeição do Moro, temos governadores muito bem avaliados. Muita coisa tem de ser considerada".

Em relação a Moro versus Bolsonaro, Haddad relembra: "Em 2018, fui perguntado sobre o que eu achava do Moro e eu disse: ele é um quadro político. Não é juiz, não é ministro, é um quadro político. Tem projeto próprio, um projeto pessoal, e ele vai o tempo todo jogar com seu projeto político pessoal. O problema do Moro é que nem tudo que ele acha que é prova, de fato, prova alguma coisa. Teremos de ver. O processo é imprevisível".

Como ex-ministro de educação, quando indagado sobre a gestão Weintraub, Haddad disse:" É uma grande pena o que tem ocorrido, não só por que os pseudoprojetos já naufragaram – Future-se, escola cívico-militar, tudo isso uma grande bobagem – mas o que funcionava está sendo destruído diariamente. Weintraub, sem dúvida, é o principal candidato ao pior ministro do pior governo da história."