Em artigo na Folha de S.Paulo neste sábado (2), Fernando Haddad analisa o cenário em torno de um possível impeachment de Jair Bolsonaro, a quem classfica como "pária", diante do crime de responsabilidade cometido pelo presidente ao participar do ato de 15 de março, pedindo a volta da ditadura.
"O impeachment, entretanto, depende de requisitos jurídicos e de condições políticas. Estas últimas dependem exclusivamente da economia. O sistema responde a um único imperativo: a acumulação. Nada pode sabotar a expansão do capital, seja a mudança climática, seja a pandemia", afirma Haddad.
Segundo ele, Bolsonaro nunca foi do baixo clero - "sempre foi um pária" - e a aproximação com Roberto Jefferson sinaliza que vai atacar para permanecer no poder. "Roberto Jefferson se dispõe a defender o mandato do capitão, a bala, com o apoio das milícias: um exército de achacadores e peculatários".
Para Haddad, o presidente vive um dilema de natureza econômica e terá que tomar decisões difíceis - "tarefa para a qual nunca se preparou".
"Veremos se sua esperteza e desfaçatez lhe apontam o caminho. O obscurantismo extremista com que distraiu incultos e ressentidos até aqui não encherá barrigas. O "kit gay da OMS", lançado por Bolsonaro, será de pouca serventia. A dúvida que lhe aflige é sobre os efeitos da permanência de Guedes e sua cartilha econômica vintage", dispara.
"Bolsonaro terá que decidir quem paga a conta. Entre o povo e a reeleição, de um lado, e o mandato e o mercado, de outro, a sinuca do impeachment", complementa Haddad.