Jones Manoel, pré-candidato ao governo de Pernambuco, quer “frente de esquerda popular e radical”

Em entrevista exclusiva à Fórum, o historiador e influenciador afirmou que quer estabelecer diálogos cada vez mais firmes com movimentos populares e partidos como o PSOL e PT

Jones Manoel - Foto: Reprodução/Facebook
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O historiador e influenciador Jones Manoel anunciou, no último domingo (12), a sua pré-candidatura como governador do Estado de Pernambuco, pelo Partido Comunista Brasileiro (PCB).

Graduado em História e Mestre em Serviço Social pela Universidade Federal de Pernambuco, Jones Manoel, de 30 anos, é uma das figuras mais conhecidas da legenda, devido à sua projeção nas redes sociais: são 183 mil seguidores no YouTube, 150 mil no Twitter e 146 mil no Instagram.

Em entrevista exclusiva à Revista Fórum, ele afirmou que a ideia é construir um programa socialista para Pernambuco, com foco em medidas emergenciais de combate à fome, ao desemprego e ao fortalecimento imediato dos serviços de saúde. No primeiro trimestre de 2021, a taxa de desocupação em Pernambuco bateu recorde, chegando a 21,3% - a maior do Brasil.

Jones Manoel também ressaltou que o lançamento da sua pré-candidatura não significa um fechamento para uma articulação de esquerda. "Pelo contrário, é para ajudar a levantar o debate, a politizar, a levar o debate, para fortalecer a construção de uma frente de esquerda popular e radical em Pernambuco", disse. Confira a entrevista.

Quais serão as suas principais propostas de governo?

O PCB decidiu anunciar a nossa pré-candidatura ao Estado de Pernambuco e imediatamente começamos a construção de um programa socialista. Evidentemente que o partido já tem vários acúmulos de debates, de propostas, de críticas e reflexões sobre os rumos da política, da economia, da cultura, da educação e da saúde em Pernambuco, porque estamos inseridos concretamente nas lutas dos trabalhadores e trabalhadoras, na luta por moradia, pela defesa do meio ambiente, no combate ao racismo estrutural, da reforma agrária, da agroecologia e por aí vai.

A gente iniciou esse processo de montagem das comissões que vão construir um programa socialista para Pernambuco. Estaremos no ano que vem reforçando a Caravana do Poder Popular, e pretendemos rodar mais de 30 cidades em todas as regiões do Estado, debatendo com os sindicatos, com os movimentos populares, com os setores da cultura, dos movimentos de luta contra as opressões, para ir formulando esse programa. 

Como funcionará esse programa socialista para Pernambuco?

Não está todo pronto, fechado e amarrado, mas claro que tem alguns eixos fundamentais. O primeiro é um questionamento ao modelo de desenvolvimento capitalista predatório antipopular e inimigo da natureza que está colocado aqui em Pernambuco. Então vamos desenvolver um debate em torno de uma economia voltada para as pessoas, enfrentando monopólios, defendendo o meio ambiente e combatendo as chagas fundamentais que atingem o povo pernambucano, já que o Estado é que mais tem desemprego no Brasil, duas milhões de pessoas passando fome. Esse primeiro eixo é o da economia popular contra os monopólios capitalistas, com a valorização do trabalhador e da trabalhadora, da agricultura familiar, da agroecologia, das empresas públicas.

O segundo eixo é de construção do poder popular. A gente quer defender um modelo de governabilidade pautado na mobilização do povo trabalhador organizado, que tem a democracia direta e participativa com capacidade de decisão. Para dar um exemplo, o governo do Estado de Pernambuco adotou um modelo de saúde focado em grandes hospitais que são geridos de maneira privada por organizações sociais, via terceirização. A gente entende que esse modelo só serve para fazer propaganda, não atende as necessidades fundamentais do povo trabalhador, e a gente quer que a política de saúde seja decidida de maneira objetiva e criteriosa pela população trabalhadora que usa o serviço, dando um destaque para a atenção básica.

Um terceiro eixo é a defesa e o fortalecimento do serviço público. Pernambuco, embora a propaganda diga o contrário, caminha numa tragédia na saúde, na educação, na cultura, no transporte, no lazer, na segurança. Metade dos trabalhadores da educação tem contratos precários e não são concursados. Queremos a valorização dos concursos, a capacitação, profissionalização, envolvimento dos trabalhadores na formulação das políticas públicas, combate à terceirização e quarteirização, melhora dos ambientes de trabalho e dos salários, aumento do atendimento através do serviço público, sem abrir espaço pra lucratividade privada.

E o quarto eixo fundamental é o combate às opressões. Pernambuco é campeão nacional em transfeminicídio, violência policial, encarceramento em massa, e não há uma política efetiva de combate ao racismo estrutural, ao patriarcado, ao machismo e à LGBTfobia. Queremos criar um conjunto de articulações de propostas, de debates e formulações de políticas, compreendendo, é claro, os limites da própria dinâmica do aparelho burguês do Estado. Como diria o grande Malcom X, não existe capitalismo sem racismo. A gente só vai destruir o racismo quando a gente superar o capitalismo a partir da Revolução Brasileira. Mas, desde já, é importante e fundamental tensionar essa ordem para conseguir cavar espaços para políticas públicas e enfrentamentos. 

O que pretende defender na sua campanha?

Um programa socialista é urgente para Pernambuco, para mostrar que existe alternativa fora da velha direita com Miguel Coelho, Raquel Lira e companhia, e do outro lado o continuísmo do PSB, que é a falsa esquerda. Mas dentro desse programa socialista, há elementos emergenciais centrados no combate à fome, geração de emprego e fortalecimento imediato dos serviços de saúde, com políticas de transferência de renda, incentivo à agricultura familiar, à agroecologia, construção imediata de restaurantes públicos e de moradias populares.

Como você enxerga a articulação política entre os partidos de esquerda?

A gente entende que a frente de esquerda é fundamental aqui em Pernambuco. O PCB lançou a nossa pré-candidatura, mas não é nenhum tipo de fechamento para uma articulação para a unidade, pelo contrário, é para ajudar a levantar o debate, a politizar, a levar o debate, para fortalecer a construção de uma frente de esquerda popular e radical em Pernambuco. Pretendemos estabelecer diálogos cada vez mais estreitos e firmes com os companheiros da Unidade Popular pelo Socialismo, com o PSOL, MTST, MST, movimentos de cultura.

E estamos chamando também as bases do PT. Sabemos que aqui no Estado a tendência é o PT sair junto com o PSB, mas vários e várias lutadores e lutadoras do PT não aguentam mais o PSB, que tem contradições gravíssimas como esse projeto da oligarquia dos campos. Ao que tudo indica, o PT não vai ter candidato aqui em Pernambuco, então estamos chamando os militantes petistas insatisfeitos com um acordo com o PSB para se somar à nossa pré-candidatura, para construir esse programa socialista, radical e popular para Pernambuco.