Juristas pela Democracia explicam o porquê não vão participar de atos do MBL

Associação compõe a Campanha Nacional Fora Bolsonaro e esteve nas ruas em todos os últimos atos contra o presidente, mas se recusa a ir a protesto convocado pelo grupo de direita; entenda

Foto: Divulgação/ABJD
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A Associação Brasileira de Juristas Pela Democracia (ABJD), que reúne nomes de peso do meio jurídico nacional, informou nesta sexta-feira (10) que não vai participar das manifestações contra Jair Bolsonaro convocadas pelo Movimento Brasil Livre (MBL) no próximo dia 12.

Um dos artífices do golpe contra Dilma Rousseff (PT) em 2016, o MBL vem tentando vender o discurso de “união” contra o atual presidente ao convocar para os atos.

O grupo de direita tem feito postagens afirmando que a pauta única dos protestos será o “Fora Bolsonaro”. Esse mote, no entanto, se trata de uma mudança de postura para atrair setores da esquerda, já que até os primeiros dias deste mês as palavras de ordem para os atos eram “Nem Lula, nem Bolsonaro”.

Para a ABJD, o ato é legítimo, mas não conta com "qualquer participação da sociedade civil organizada em seus diversos movimentos, entidades, coletivos plurais".

"Um convite para aderir a eles, com diversas limitações sobre identificação, não guarda coerência com a estruturação horizontal que defendemos", diz nota divulgada pelos juristas, que compõem a Campanha Nacional Fora Bolsonaro e que participaram de todos os últimos atos dos movimentos populares contra o presidente.

Confira, abaixo, a íntegra da nota da ABJD.

"Porque não vamos aos atos em 12 de setembro

Toda manifestação contra o governo autoritário e genocida de Jair Bolsonaro pedindo seu impeachment é legítima em si mesma. As divergências entre as forças políticas e seus diversos segmentos, próprias do regime democrático, não devem ser combustível para que se promovam ataques a esse ou aquele ato público com essa pauta.

Nas lutas populares, a Associação Brasileira de Juristas pela Democracia (ABJD) compõe, como entidade, a campanha nacional Fora Bolsonaro. As manifestações de rua, nesse caso como em regra, acontecem como consequência do aprofundamento do debate coletivo em defesa das pautas que interessam à sociedade brasileira.

A construção coletiva, portanto, além das bandeiras que se leva para o espaço público, precede as ações.

O ato deste domingo, dia 12 de setembro de 2021, é convocado, divulgado e organizado pelo Movimento Brasil Livre (MBL), sem qualquer participação da sociedade civil organizada em seus diversos movimentos, entidades, coletivos plurais. Um convite para aderir a eles, com diversas limitações sobre identificação, não guarda coerência com a estruturação horizontal que defendemos.

Desse modo, esclarecemos que a ABJD não participará dos atos do dia 12 de setembro".

"Nem Lula, nem Bolsonaro"

A máxima de "Nem Lula, nem Bolsonaro" do MBL não é só uma palavra de ordem que vem sendo escondida para atrair a esquerda. A associação distorcida entre o petista e o atual presidente está sendo usada para vender camisetas e agasalhos na loja online do MBL, e o dinheiro das vendas, segundo o grupo, será utilizado para ajudar a financiar as manifestações.

No Instagram, por exemplo, circula uma postagem paga do grupo que mostra um modelo vestindo uma dessas camisetas. “Compre já. Unidades limitadas. 100% do lucro destinado à manifestação do dia 12/09. Prepare-se para o dia 12/09”, diz o anúncio.

Anúncio parecido foi feito no perfil do MBL no Twitter no último dia 1º. “Camiseta NEM LULA & NEM BOLSONARO agora preta disponível. Compre e ajude o MBL na manifestação do 12 de setembro!”, diz a publicação.

Na loja online do MBL já é possível, logo no primeiro acesso, ver uma grande variedade de camisetas “Nem Lula, nem Bolsonaro” à venda. As peças custam entre R$49,90 e R$59,90.

As camisetas com as frases que associam Lula a Bolsonaro contém uma estampa de trevo de três folhas. O símbolo foi adotado recentemente pelo MBL e representa a chamada “terceira via”. Ou seja, o grupo convoca para as manifestações com um discurso de “união” mas, para financiá-las, fomenta uma narrativa eleitoreira.

Alguns segmentos da esquerda e centro-esquerda, como integrantes do PDT, PCdoB e algumas centrais sindicais, já confirmaram presença nos atos do MBL. Já o PT e outros setores da esquerda querem evitar sair às ruas ao lado do grupo.

Mobilização unificada

A presidenta nacional do PT, deputada Gleisi Hoffmann, anunciou pelas redes sociais nesta quarta-feira (8) que 9 partidos se articulam de forma unitária para definir os próximos passos pelo impeachment do presidente Jair Bolsonaro. A reunião aconteceu um dia depois dos atos golpistas do 7 de setembro.

Segundo Gleisi, além do PT, conformam a frente pró-impeachment: PDT, PSB, PSOL, PCdoB, PV, Solidariedade, Rede e Cidadania. O Solidariedade aderiu à pauta logo após os atos golpistas.

“Reunimos 9 partidos para debater próximos passos do movimento pelo impeachment e construir grande ato nacional unificado com os que defendem a democracia. Partidos, movimento sindical, social, para dizer Fora Bolsonaro”, escreveu no Twitter.

Ainda não está definida a data da primeira mobilização unificada.

“Enquanto construímos esta grande manifestação de unidade pela democracia, pelo Brasil e pelos direitos do povo, incentivamos todos os atos que forem realizados em defesa do impeachment. O país está cobrando a responsabilidade do presidente da Câmara pela abertura dos processos”, afirmou Gleisi.

Com a mensagem, Gleisi evita anunciar adesão do PT aos atos promovidos por grupos à direita no próximo domingo (12). Enquanto algumas centrais sindicais (Força, CSB, UGT e NCST) e partidos anunciaram que vão estar nos atos, a CUT e a Central de Movimentos Populares rejeitaram o ato.

“Este ato foi convocado por grupos de direita, como MBL e Vem Pra Rua, que contribuíram com o golpe de 2016, que foi contra o Brasil e os brasileiros, e que culminou com a eleição de  Jair Bolsonaro. Desde então, além das crises social, econômica e sanitária, a classe trabalhadora vem sofrendo uma série de ataques contra seus direitos”, diz um comunicado da CUT.

Já a Central de Movimentos Populares destacou que “esses grupos agendaram o dia 12 com o mote ‘nem Bolsonaro, nem Lula’”. Nas redes sociais é possível encontrar postagens dos organizadores puxando um “Fora Lula”. Um tuíte feito por João Amoedo, candidato presidencial do partido Novo em 2018, traz a hashtag #12SetForaLula.