Keffin Gracher: Quando a agressão e a ameaça chegam até você

Tenho certeza absoluta de que estou do lado certo da história e tenho orgulho de poder me enfileirar ao lado de muitos que enxergam a defesa da democracia, da liberdade, de uma sociedade justa e com igualdade de oportunidades como valores fundamentais

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Por Keffin Gracher* Não falo em nome de alguém, mas em meu próprio nome e pela experiência que vivi em São Paulo. Tenho ouvido muitos relatos sobre ataques, intimidações e agressões. Em São Paulo e por todo o país são numerosos esses relatos, mas não me via como uma vítima em potencial. Ouço relatos de grupos LGBTQI+ e de negros, todos expostos e sendo alvos constantes de racismo e homofobia. Mas chegou minha vez. Meu carro tem adesivo do Fernando Haddad. A caminho de uma reunião, parou um Jetta preto ao meu lado no semáforo, o motorista baixou o vidro e me chamou. Achei que ia pedir informação. Baixei meu vidro também. Dentro do carro estava um homem de uns 40 anos, vestido com uma farda cinza que não consegui distinguir de qual corporação era. Muito calmamente ele pegou a pistola, apontou em minha direção e me disse: “Seu comunista de merda, seu comunista de iPhone, vocês serão os primeiros a serem pegos, vocês que financiam o comunismo precisam ser pegos, depois da eleição eu te encontro…”. O semáforo abriu e ele partiu. Fiquei sem reação, pasmo de passar por uma situação assim. Não consegui anotar placa do carro, mal consegui chegar ao meu compromisso. Não sou comunista. Até poderia ser, qual seria o problema? Minha posição política de defesa de Fernando Haddad não fere ninguém, não pode ser visto como crime ou ofensa. Como alguém se sente seguro em apontar uma arma, em plena luz do dia, para intimidar alguém que ele julga ser seu “inimigo”? Não sou uma pessoa de arroubos, tenho a calma e a tranquilidade como características, jamais me senti no direito ou tive a intenção de intimidar alguém que pensa diferente, por isso não consigo entender como alguém pode sentir-se empoderado para uma ação dessa natureza. Fico refletindo muito sobre onde essa polarização vai nos levar, essa divisão entre vermelhos, comunistas, socialistas, e os “bons, defensores das famílias e da moral”. Não vejo caminho no dualismo. Não podemos reduzir o mundo em duas visões. Não devemos nos colocar contra quem pensa diferente. Desde que o pensamento dessa pessoa não fira outras pessoas, temos que ser tolerantes, mas não podemos ser tolerantes com aqueles que são intolerantes e sabotam a democracia. Posso ser cobrado pelas minhas escolhas, por estar ao lado de muitos lutando pela democracia, mas não vou amargar o gosto de ser cobrado por ter ficado no ar-condicionado confortavelmente assistindo ao fascismo se consolidar. Tenho certeza absoluta de que estou do lado certo da história e tenho orgulho de poder me enfileirar ao lado de muitos que enxergam a defesa da democracia, da liberdade, de uma sociedade justa e com igualdade de oportunidades como valores fundamentais. Sigamos, um pouco assustados, mas não podemos recuar! *Keffin Gracher é jornalista e cientista social. Há 12 anos coordena projetos de comunicação digital, com foco em governos e campanhas eleitorais. No governo da presidenta Dilma Rousseff foi diretor de Internet, responsável pela presença digital do Governo Federal