Lava Jato apoiou Moro após grampo a Dilma: “Estamos com você, não peça desculpas”

Autor da mensagem ao então juiz foi o procurador Carlos Fernando dos Santos Lima, um dos mais atuantes da força-tarefa, que assegurou falar em nome de todos os colegas

O procurador Carlos Fernando dos Santos Lima, com camiseta em homenagem à República de Curitiba (foto: reprodução Twitter)
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Os diálogos da Operação Spoofing, recentemente entregues à defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, continuam revelando a cumplicidade entre o ex-juiz Sérgio Moro e os procuradores da força-tarefa da Lava Jato.

É o que mostra, por exemplo, um vazamento revelado nesta segunda-feira (22), onde se vê o procurador Carlos Fernando dos Santos Lima apoiando o magistrado, em mensagem publicada dias depois do vazamento do grampo ilegal à então presidenta Dilma Rousseff.

O caso aconteceu em março de 2016, quando a Polícia Federal interceptou conversas de Dilma e com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Além da ilegalidade do grampo em si, o ex-juiz também atuou fora da lei ao divulgar o conteúdo das conversas à imprensa – parte da gravação foi divulgada primeiro pelo Jornal Nacional, da Globo, e em seguida por vários meios de comunicação.

Quando a repercussão do caso colocou em dúvida a legalidade da ação de Moro, os procuradores expressaram ao então juiz sua solidariedade, segundo conversa no grupo de Telegram. O procurador Carlos Fernando dos Santos foi o autor da mensagem, na qual dizia representar a postura de todos os seus colegas, ao afirmar: “Estamos com você, não peça desculpas”.

O procurador também diz a Moro que “você é um mito para muita gente. Nesse atual momento os seus atos de contrição, de reconhecimento de erros, apesar de mostrar humildade e grandeza, produz dois efeitos indesejáveis. De um lado enfraquece seu apoio entre a população em geral, introduzindo uma cunha de dúvida em todas as suas decisões. De outro lado, por você aparentar enfraquecido, você atraí ataques de qualquer urubu, de pessoas desqualificadas, etc…”.

Em seguida, Januário Paludo acrescentou que “o papel de vítima não cai bem para ele (Moro)”.

Para os membros da força-tarefa da Lava Jato, Moro não deveria se retratar nem pelo grampo ilegal e tampouco pelo vazamento das conversas à imprensa. Curiosamente, tanto Moro quanto os procuradores mudaram radicalmente de postura sobre a divulgação de conversas adquiridas por grampos ilegais quando essas mesmas mensagens de Telegram foram divulgadas na série de reportagens “Vaza Jato” do The Intercept Brasil.

Veja um trecho da conversa no grupo de Telegram da Lava Jato:

08:57:20 Carlos Fernando Mandei esta mensagem para o Moro:

08:57:25 Caro. Vou falar como amigo. Você é um mito para muita gente. Nesse atual momento os seus atos de contrição, de reconhecimento de erros, apesar de mostrar humildade e grandeza, produz dois efeitos indesejáveis. De um lado enfraquece seu apoio entre a população em geral, introduzindo uma cunha de dúvida em todas as suas decisões. De outro lado, por você aparentar enfraquecido, você atraí ataques de qualquer urubu, de pessoas desqualificadas, etc… Vamos precisar de uma estratégia de comunicação. E ela passa por fazermos o que sempre foi feito. Operação atrás de operação. Estamos juntos com você independentemente da lava jato. Abraços. Carlos

10:44:03 Januario Paludo já mandei para ele também, dizendo que não há “mea culpa” a fazer. 10:44:46 acho que o papel de vítima não cai bem para ele.