Líder ianomâmi denuncia Bolsonaro na ONU: ele trata a terra e os índios como mercadoria

Davi Kopenawa, porta-voz dos ianomâmis, viajou a Genebra junto com representantes de organizações de direitos humanos, e apresentou uma denúncia a entidade internacional por violações do governo brasileiro contra os direitos humanos do seu povo

O líder ianomâmi Davi Kopenawa (foto: Sesai/ Ministério da Saúde)
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A 43ª Sessão do Conselho de Direitos Humanos da ONU (Organização das Nações Unidas), realizada em Genebra, na Suíça, se iniciou nesta terça-feira (3) com uma denúncia grave feita por um representante brasileiro, o líder ianomâmi Davi Kopenawa, contra o governo de Jair Bolsonaro.

Segundo o porta-voz do povo ianomâmi, “o presidente Bolsonaro quer acabar com os povos indígenas no Brasil, trata a terra e a nós como mercadoria. Ele não gosta de índio, e não gosta de mim”.

A participação de Kopenawa no Conselho foi acompanhada por diversas organizações defensoras dos direitos humanos e indígenas, do Brasil e de outros países.

A denúncia foi apresentada junto com um informe realizado pelo ISA (Instituto Sócioambiental). Um dos pesquisadores da entidade, Antonio Oviedo, acrescentou que o país enfrenta um desmonte dos órgãos de proteção aos povos indígenas, como é o caso da Funai (Fundação Nacional do Índio) e seus órgãos subordinados.

O líder indígena também criticou a instrumentalização evangélica promovida por Bolsonaro nos órgãos proteção indígena.

“Tenho medo dos missionários, eles entram nas nossas comunidades sem consulta com as lideranças das aldeias. Eles carregam doenças. Nós não precisamos aprender a virar um homem branco. Não há interesse. Só queremos falar português para poder defender os direitos do meu povo. Esse homem (Bolsonaro) é doido”, contou Kopenawa.

Em fevereiro, o governo brasileiro nomeou o ex-missionário evangélico Ricardo Lopes Dias como chefe da Coordenação Geral de Índios Isolados e de Recente Contato, órgão subordinado à Funai.

O pesquisador Antonio Oviedo é um dos que contesta a nomeação do evangélico a um cargo de alta relevância na Funai. “Ele tem um histórico de contatos forçados com outras etnias, que resultaram em violência contra indígenas. O discurso dessa diretoria é que precisam contatar esses índios, ensinar a língua portuguesa e inseri-los na sociedade brasileira. É um completo absurdo. Foi criada uma anti-Funai”, reclama.

A Alta Comissária da ONU para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, aproveitou a sessão para anunciar a inclusão do Brasil na lista de países que provocam preocupações sobre direitos humanos. Segundo ela, o país vive “retrocessos significativos de políticas de proteção do meio ambiente e dos direitos dos povos indígenas”.

Vale lembrar que Bachelet, ex-presidenta do Chile e filha de uma vítima da ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990), foi atacada por Bolsonaro em setembro de 2019 – o presidente brasileiro, contrariado pelas críticas da comissária à situação dos incêndios na Amazônia, ofendeu a memória do seu pai.

A 43ª Sessão do Conselho de Direitos Humanos da ONU, iniciada nesta terça-feira em Genebra, se estenderá até o dia 20 de março.