Lindbergh Farias: Carta aberta ao Presidente Lula

"Lula, você simboliza, sobretudo, a ideia de que outro mundo é possível. Um mundo mais justo, mais próspero, mais generoso e inclusivo", diz o senador Lindbergh Farias em carta a Lula. Leia

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Por Lindbergh Farias* Normalmente eu falo para o público brasileiro em geral, mas hoje eu quero falar para uma pessoa muito especial para mim, para todo o Brasil e para o mundo. Quero falar para o homem que veio lá de baixo da pirâmide social e conseguiu, contra todos os imensos obstáculos, mudar profundamente a estrutura da desigual sociedade brasileira. Quero falar para aquele homem que veio de uma família aprisionada pela miséria e que conseguiu libertar milhões de brasileiras e brasileiros das terríveis garras da pobreza. Quero falar para aquele homem que passou fome e sede e conseguiu tirar o Brasil do Mapa da Fome e levar as águas de esperança para o sedento sertão nordestino. Quero falar para aquela criança que nasceu em uma família de analfabetos e que duplicou o número de vagas no ensino superior e abriu as portas das universidades brasileiras para negros, pobres e indígenas. Quero falar para aquele homem que, quando jovem, passou muito tempo desempregado, mas conseguiu gerar mais de 23 milhões de empregos de qualidade, com carteira assinada, para que nossos cidadãos pudessem ter uma vida digna. Quero falar para o operário que enfrentou a ditadura. Quero falar para o líder que fundou o maior partido de esquerda da América Latina. Quero falar para o homem que, mesmo não sabendo falar inglês, colocou o Brasil, de cabeça erguida, no primeiro time das nações do mundo. Quero falar para o maior líder popular da história do País. Quero falar para o melhor presidente que o Brasil já teve. Quero falar para o único líder mundial que o Brasil produziu. Quero falar para Lula. Lula, estive com você no início da tua caravana na Bahia. Uma caravana simples, feita de ônibus, que passa por lugares onde mora um povo simples, na sua maioria pobre, como você foi, mas, também como você, maravilhoso em sua capacidade de lutar e de viver: o povo do Brasil. O teu povo, Lula. E, Lula, volto dessa caravana impactado e maravilhado. Estive lá presente e percebi, nos teus olhos, nos teus gestos, na tua fala, a profunda conexão entre o povo do Brasil e você. Lula, é algo impressionante. Por onde a caravana passa as pessoas se aglomeram para te ver, para te ouvir, para estar com você nem que seja por um momento fugaz. Lula, estou certo de que nunca ouve, na história do Brasil, um líder com uma conexão tão profunda, tão autêntica com o povo brasileiro como a que você tem. Sou testemunha disso. Acho que nem Getúlio Vargas chegou perto. Lula, por onde você passa, as pessoas se transformam: são tomadas por um sopro de vida, saem às ruas, cantam, gritam, riem, choram de emoção. Como naquele samba de Paulinho da Viola, a tua caravana é como um rio que passa pela vida das pessoas e leva e arrebata os seus corações. Você e a tua caravana são como um rio que devolve a alegria e a esperança à população hoje tão maltratada por um governo ilegítimo e profundamente impopular e antipopular. Essa conexão profunda, visceral, que a eu percebi pela maneira como as pessoas te olham, te ouvem, te tocam deve-se muito ao fato de que você é um autêntico homem do povo. Porque você, Lula, viveu todas as agruras, todas as experiências que o povo mais despossuído deste país ainda vive. Você viveu a fome, viveu a miséria, viveu o preconceito, viveu a falta de moradia, viveu a falta de escola, a falta de saúde, a falta do emprego. Por isso você fala a linguagem do povo. Não como um demagogo, que artificialmente tenta se colocar na posição do povo. Daqueles que tiram sua camisa polo Lacoste e vestem uniformes de gari para posar para fotos de marketing. Não, Lula. Você fala com o povo como um igual, como um irmão, como um pai, como um avô. Por isso há esse afeto autêntico, espontâneo, inquebrável entre você e o povo deste país. Lula, as pessoas te abraçam e te beijam como se você fosse um velho e querido parente que veio lhes fazer uma visita. A mãe te beija como a um filho. A filha te beija como a um pai. O irmão te abraça como a um irmão. Entre você e o teu povo não há protocolos, não há formalidades, não há marketing nenhum. Você está em casa junto ao povo e o povo está em casa com você. Vocês são como aqueles velhos amigos que, mesmo passando muito tempo sem se ver, não perdem a cumplicidade e a intimidade. Aquela criança que um dia acariciou o teu rosto, hoje é o homem que repete o gesto com inteira espontaneidade. É um vínculo inquebrantável, algo mágico. Mas, Lula, a profunda conexão entre você e o povo brasileiro não está apenas na tua origem. Não se deve apenas ao fato de que você é um líder que veio do povo. Ela se deve fundamentalmente às tuas escolhas políticas. Porque você não é apenas um líder do povo do Brasil. Lula, você é um líder para o povo brasileiro. A tua conexão com o povo não está apenas no passado comum, ela está mais num futuro compartilhado, ela está nos sonhos comuns. E é isso, Lula, que assusta as nossas oligarquias. Porque você não é apenas um político oriundo da nossa Senzala. Você, Lula, fez a escolha fundamental, única, de ser um político para a Senzala. Você tomou a decisão histórica de incluir a Senzala na Casa Grande. De incluir os excluídos como você. De eliminar a pobreza que tanto te afetou. De reduzir a nossa desavergonhada desigualdade que tanto te envergonhou. De combater os atávicos privilégios que tanto te prejudicaram. Você, Lula, ofendeu nossas oligarquias com essa tua disposição incansável de combater nossa principal e histórica corrupção: a miséria e a desigualdade. Mas eles só oferecem a destruição do Brasil. Só oferecem a volta ao passado. Já você tem proposta de futuro, você tem luz própria. Eles oferecem trevas, mas você oferece uma luz que ilumina os corações das pessoas sedentas de uma vida melhor. Ao contrário das forças do retrocesso que tomaram conta do país, você oferece esperança, oferece generosidade, oferece solidariedade. É por isso que você galvaniza as pessoas. Lula, elas têm saudade de uma época em que prosperavam e o país se agigantava. Um Brasil grande para todos, ao invés de um país pequeno para poucos, como temos hoje. Elas têm saudade de você, Lula. O Brasil tem saudades de você. Lula, você é a única liderança que projeta futuro. E as pessoas estão cansadas do ódio e dessa crueldade social do golpe. Estão cansadas do desemprego e da falta de perspectivas. Estão cansadas do austericídio que destrói o Brasil e as suas vidas. As pessoas querem esperança, querem igualdade, querem emprego, querem oportunidades, querem futuro. Elas querem você, Lula. Lula, o povo brasileiro sabe que os únicos “crimes’ que você cometeu foram, entre outros, ter feito 42 milhões de brasileiros ascenderam à classe média, ter praticamente eliminado a miséria no Brasil, ter ampliado as oportunidades educacionais para a população mais pobre, ter aumentado o salário mínimo em mais de 70%, ter ampliado os serviços de saúde para a população carente, ter reduzido o desmatamento da Amazônia e comprometido o Brasil no combate mundial ao aquecimento global, ter propiciado verdadeiro combate à corrupção num país que sempre a havia ignorado, ter afirmado a independência e a soberania do país, ter tirado o Brasil do Mapa da Fome da FAO, ter, enfim, iniciado a construção de um país mais justo e solidário. Um Brasil para todos. Um Brasil que foi negado a você, mas que você, generosamente, quer legar para o teu povo. Lula, você representa a esperança da superação do neoliberalismo, que concentra renda e patrimônio, promove pobreza e desigualdade, propaga desemprego, exclusão e injustiça e aprofunda a divisão entre os países do globo. Lula, você simboliza, sobretudo, a ideia de que outro mundo é possível. Um mundo mais justo, mais próspero, mais generoso e inclusivo. Não esse mundo desigual e excludente, que exige o sacrifício do povo e a destruição dos direitos para subsistir. Ao contrário dos golpistas, que se nutrem do ódio, você, Lula, se nutre da esperança de dias melhores em um Brasil para todos. Inclusive para a minoria que foi artificialmente adestrada a te odiar. Lula, você é uma criação genuína do povo do Brasil. Você tem a cara do povo, o coração do povo. Você está no filho do pedreiro que virou doutor. Na mãe que hoje consegue alimentar os seus filhos. Nas águas que hoje regam o semiárido nordestino. Na luz para os que viviam nas trevas, sem luz elétrica, em pleno século XXI. Você está em todos os programas internacionais de combate à fome e à pobreza. Lula, você é a esperança da conciliação do Brasil. Somente eleições diretas com a tua participação poderão superar a gravíssima crise política, econômica e institucional do país. Te cassar, como querem as forças do retrocesso, significará manter o Brasil numa crise insolúvel. Seria agravar o quadro de conflito que aprisiona o país. Você representa um capital político e democrático ao qual o Brasil jamais poderá renunciar. Lula você é esperança, é sonho. Não se pode aprisionar esse sonho, não se deve encarcerar essa esperança. Te cassar seria a mesma coisa que cassar o povo, cassar o futuro. Seria destruir a esperança e sepultar, de vez, a nossa golpeada democracia. Lula, a tua caravana, que eu vi passar, é irreversível. É um aluvião de esperança que lavará a alma sofrida de um povo hoje profundamente golpeado em seus direitos. E à minoria que foi adestrada a te odiar, deve-se que repetir o velho adágio árabe: os cães ladram e a caravana passa. Pois a caravana representa um objetivo comum, um sentimento compartilhado, uma estrela a ser seguida. Ela significa um vínculo que não pode ser quebrado, uma irmandade que não pode ser desfeita. Ela significa uma disposição para realizar o futuro comum que não se detém por causa dos latidos inúteis dos cães furiosos e sem rumo. Lula, você e tua caravana passam impávidos rumo ao futuro. Movidos pelo coração do povo, pela generosidade, pela esperança, nada os deterá. Não tem mais jeito, Lula. É você em 2018. *Lindbergh Farias é senador pelo PT do Rio de Janeiro