Por Leandro Massoni*
No último dia 25 de junho, o deputado federal Luis Miranda (DEM), ao lado de seu irmão e servidor do Ministério da Saúde, Luis Ricardo Miranda, foram ouvidos pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19 e protagonizaram a sessão mais explosiva da CPI até então.
Na ocasião, a pauta foi o contrato para a compra da vacina indiana Covaxin. Os dois alegaram que teriam se reunido com o presidente Jair Bolsonaro em 20 de março, no Palácio da Alvorada, e o alertaram, com base nos relatos de Luis Ricardo, responsável pelos contratos, sobre as irregularidades na compra da vacina.
Os depoentes afirmaram aos senadores que o presidente teria considerado como grave a denúncia e que a encaminharia à polícia federal.
Luis Ricardo relatou ainda que sofreu pressões para agilizar a importação da Covaxin e apontou algumas figuras consideradas superiores na hierarquia que exigiam o pagamento antecipado de R$ 221 milhões para a importação de doses da vacina:
- Marcelo Bento Pires, coronel e então diretor de programa do Ministério da Saúde;
- Alex Lial Marinho, ex-coordenador do setor de logística;
- E Roberto Ferreira Dias, diretor do mesmo departamento.
Luis Miranda, por sua vez, após ter avisado o presidente Bolsonaro das suspeitas de irregularidades nos contratos de compra da Covaxin, se queixou de não ter sido mais recebido pelo presidente e de ter perdido verbas das emendas parlamentares. E quando confrontado pela senadora do Mato Grosso do Sul, Simone Tebet (MDB), afirmou que o deputado Ricardo Barros (PP), líder do governo na câmara dos deputados, seria o principal responsável por exercer pressão para a aquisição da vacina indiana.
Antes mesmo de depor, no dia 23 de junho, as suspeitas de Luis Miranda haviam se tornado públicas com o vazamento de prints de conversas, documentos e áudios do que ele mesmo pretendia revelar com exclusividade à CPI da Covid. O Planalto já anunciou que irá investigar as condutas do deputado e do seu irmão.
Nesta sexta-feira, 09, o deputado entregará à CPI da Covid as denúncias das supostas irregularidades no Ministério da Saúde em 2019, antes da crise causada pela pandemia. Segundo o parlamentar, são apontamentos feitos pelo seu irmão e enviados na época ao presidente Bolsonaro.
O primeiro deputado eleito no país morando no exterior
Natural do Distrito Federal, Luis Miranda foi um dos deputados federais eleitos em 2018, sendo reconhecido como um “outsider”, ou seja, alguém de fora da política partidária. Recebeu 65.107 votos sem precisar da estrutura partidária, seguindo o exemplo dos colegas na câmara, e fazer campanha no Brasil.
De sua residência, localizada no estado da Flórida, Miranda usou seu canal do YouTube (atualmente com 648 mil seguidores), onde fornece dicas de como conseguir visto e empreender nos Estados Unidos, para atrair os eleitores de sua cidade natal.
Não demorou muito e logo embarcou na onda bolsonarista. Vestia a camisa do então postulante à presidência e, apesar de não ser do mesmo partido, estava explicitamente alinhado ao discurso usado por Bolsonaro para o combate à corrupção e com as propostas do Planalto.
Dentro da câmara, estabeleceu relações com os presidentes, tanto com Rodrigo Maia, que era do seu partido, quanto com o atual, Arthur Lira (PP). Recentemente, Luis Miranda tentava apoio para o ser o novo relator da reforma tributária.
Mas aos poucos, o deputado percebeu que, nos bastidores, o governo trabalhava contra o seu nome na relatoria, embora reconhecesse seus projetos sobre o assunto, entre eles, a PEC 138/2019 para tratar da unificação de tributos. Além deste, Miranda apresentou cinco projetos de lei, sendo dois deles relativos ao combate à pandemia da Covid-19 e agregados a outros similares que aguardam votação.
Durante a instalação da Frente Parlamentar Mista da Reforma Tributária, o deputado, então coordenador do grupo, declarou que a atual carga tributária penaliza os mais pobres e que sua intenção é lutar por uma reforma que desonere o consumo e aumente as alíquotas cobradas sobre a renda.
Em seu canal no YouTube, onde se tornou conhecido como uma pessoa de sucesso, Luis Miranda busca reforçar a ideia de que Miami é a terra do capitalismo, externando sua posição contra o socialismo. Entretanto, segundo outros canais, houve indícios de que ele tenha mostrado itens falsos em seus vídeos, como notas de dólares, por exemplo. Além disso, ele acumula polêmicas com suas supostas ameaças e ofensas àqueles que realizam denúncias através da plataforma.
*Leandro Massoni é Jornalista, locutor e redator publicitário.