Lula e a meningite: um apelo à razão

Insinuar que Lula é responsável de certa forma pela morte de seu neto é parte de um ódio irracional e desumano que só cresce no Brasil

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
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Por Carlos Magno C. B. Fortaleza* Circula nas redes um texto segundo o qual Lula vetou a vacina contra a meningite que vitimou seu neto de 7 anos. Qualquer pessoa que publique ou compartilhe uma notícia desse tipo é ao mesmo tempo desinformada e mal-intencionada. O Programa Nacional de Imunização (PNI) do Brasil nasceu na década de 1970 e vem ampliando o número de vacinas disponíveis desde então, não importa o governo. As decisões são tomadas pelo Ministério da Saúde com base na orientação do Comitê Nacional de Imunização, apartidário e formado pelos maiores especialistas em vacinas do país. Em 2010 (aliás, durante o governo Lula), foi introduzida no calendário vacinal infantil a vacina contra o meningococo tipo C, responsável pela esmagadora maioria dos casos de meningite meningocóccica no país. Desde então, houve significativa redução dos casos dessa doença na população vacinada (Bierrenbach, 2018). É importante ressaltar que qualquer introdução de vacinas leva em conta o impacto da doença na população e a sustentabilidade financeira do seu uso continuado. Vacinas contra os meningococos tipo A, C, W e Y não foram incluídas no calendário nacional pela raridade de sua ocorrência. Já a vacina contra o tipo B foi somente recentemente desenvolvida, é extremamente complexa e tem um preço ainda proibitivo para sua inclusão em políticas públicas (lembrando que esse tipo também é minoritário no Brasil) (Azevedo, 2013). O Brasil é universalmente respeitado por seu programa de vacinações (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2017). Em resumo, as decisões de incluir ou não vacinas no calendário infantil são técnicas. Insinuar que Lula é responsável de certa forma pela morte de seu neto é parte de um ódio irracional e desumano que só cresce no Brasil. Referências Azevedo LC et al. PLoS One. 2013; 8(6): e64524. Bierrenbach AL et al. Hum Vaccin Immunother. 2018; 14(5): 1138–1145. ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. (WORLD HEALTH ORGANIZATION). From warehouse to remote indigenous communities: The journey of vaccines in Brazil. online: https://www.who.int/news-room/feature-stories/detail/from-warehouse-to-remote-indigenous-communities-the-journey-of-vaccines-in-brazil. *Carlos Magno C. B. Fortaleza é médico infectologista, professor livre-docente da Faculdade de Medicina de Botucatu, Universidade Estadual Paulista / UNESP)

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