"Lula está isolado em um regime de solitária", denuncia Gleisi Hoffmann

Em entrevista à Fórum, a senadora pelo Paraná e presidente do Partido dos Trabalhadores, Gleisi Hoffmann fala sobre a visita ao ex-presidente na sede da Polícia Federal em Curitiba, onde ele está preso desde o dia 7 de abril.

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Fórum –  A senhora esteve com o ex-presidente nesta semana, como Lula está e quais são as condições de como ele está instalado na sede da Superintendência da Polícia Federal em Curitiba? Gleisi Hoffmann – É difícil dizer que uma pessoa que está presa esteja bem.  O presidente Lula não deveria estar lá, porque é inocente. O que nós temos é uma prisão política. Agora, ele é um herói, um guerreiro, uma pessoa forte, firme, e sabe o papel que tem diante do Brasil, do povo brasileiro. Ele está com muita força para enfrentar essa situação e, ao enfrentá-la, ele sabe que estará lutando pelos direitos do povo. Nós que ficamos mais tristes em vê-lo naquela condição de estar confinado em um lugar praticamente isolado, numa solitária, porque não permitem visitas ao presidente. Hoje, ele recebe só os advogados e a família uma vez por semana e nenhuma outra visita foi autorizada. Nem a minha visita, nem a de outros dirigentes, estiveram lá Adolf Perez Esquivel, que foi barrado, Leonardo Boff que passou um dia praticamente sentado na frente da Polícia Federal para ver o Lula, tivemos a negativa de nove governadores para visitá-lo. Nós, senadores, só entramos, porque foi uma diligência aprovada no Congresso, com Comissão dos Direitos Humanos e não tinha como a juíza negar. Nossa visita foi para avaliar as instalações, ver como ele estava, nós não tivemos tanto tempo para ter uma conversa com ele, eram vários senadores inclusive. É essa a situação, uma situação de isolamento e que eu acho muito grave e que a gente tem denunciado isso para a sociedade brasileira, para o mundo e denunciado também o caráter político dessa prisão. Fórum – Zé Dirceu deu uma entrevista a Folha onde ele fala sobre o isolamento de Lula a possibilidade de ele ir para o Complexo Médico Penal de Pinhais, na região metropolitana de Curitiba, onde estão Vaccari e Eduardo Cunha. O PT pensa em fazer um movimento nesse sentido? Gleisi Hoffmann – Não, isso não cabe a nós. Lula está em uma prisão provisória na Polícia Federal. Houve pedido já da Associação dos Delegados para mudarem ele de lá, pedido da prefeitura de Curitiba, o fato é que se queria que o Lula fosse para Curitiba. E agora eles não sabem lidar com essa situação, pela grandeza que o presidente tem. Continuamos com a vigília cívica lá na frente, continuam chegando as cartas para o Lula, mais de 10 mil já foram recebidas, continuam chegando manifestações de apoio, ou seja, não cabe a nós discutir essa situação, cabe a nós lutar pela liberdade do Lula, nós queremos que ele saia de lá para as ruas do Brasil. Fórum – Há uma série de manifestações em defesa da liberdade de Lula, inclusive com apoios de personalidades internacionais, o que mais pode ser feito? Quais os próximos passos o PT planeja? Gleisi Hoffmann – É continuar a luta política. Primeiro denunciando, no Brasil e no mundo que Lula é um preso político. Foi preso sendo inocente. Não provaram qual foi o crime e não mostraram as provas do crime, ou seja, é um condenado sem crime. Essa é a verdade nua e crua. Lula está isolado, não pode falar com as pessoas, está em um regime de solitária, vamos continuar essa luta. E Lula continua sendo candidato do PT e candidato de uma parcela expressiva do povo brasileiro a presidente do Brasil. Fórum – Não existe a possibilidade de apoio a uma outra candidatura? Gleisi Hoffmann – Não existe, primeiro porque o Lula é inocente e, como ele é inocente, nós acreditamos na inocência dele, nós achamos que ele tem direito a disputar a presidência do Brasil. E é o candidato que tem maior intenção de voto disparado nas pesquisas. Se nós formos discutir qualquer outra possibilidade, nós vamos estar concordando com os algozes de Lula, que ele seria culpado e que temos que deixar ele na cadeia, não vamos cuidar da sucessão e da eleição. Lula é inocente e é o nosso candidato. Nós vamos registrá-lo no dia 15 de agosto na Justiça Eleitoral, até porque ele não tem os seus direitos políticos suspensos. O direito político só se suspende depois do trânsito em julgado da sentença.  Então só quando o Supremo Tribunal Federal falar sobre esse processo que o condenou. Nós vamos inscrevê-lo, depois na Justiça Eleitoral vai ser outra discussão se quiserem impugná-lo, mas nós vamos inscrevê-lo. E segundo, o Lula já deixou de ser candidato apenas do PT, as pesquisas o consolidam, apesar de toda desconstrução que ele sofreu ao longo desse tempo, como o preferido do povo brasileiro. Ele já é candidato da parcela desse povo e esse povo que quer votar no Lula espera que o PT o defenda, e não abdique a sua candidatura. Esse é o nosso papel enquanto partido. Fórum – Nesta semana vídeo do tríplex atribuído a Lula desmontou a tese de Moro. Poderia comentar o que significa esse processo para a democracia brasileira? Gleisi Hoffmann – Foi importante a divulgação desses vídeos para desmontar a narrativa feita pelo juízo de Curitiba, que é uma narrativa mentirosa. Dizer que aquele apartamento é luxuoso, que o Lula recebeu como propina, lavou dinheiro, primeiro mostra que o apartamento não é do Lula, ele não tem a propriedade do imóvel. O Lula ter ido visitar, ou ter a intensão de comprar, não o torna proprietário, aí já tem uma mentira e não tem a prova da lavagem de dinheiro, que é um dos crimes que o acusam. Segundo, não tem sequer o benefício que ele deu a OAS, o que ele deu em troca a OAS? A OAS tinha contrato na Petrobras, como tem com o governo do estado de São Paulo, como tem com o governo do estado do Paraná, como tem contrato com governos do PSDB. A acusação é de uma fragilidade imensa e, segundo descrevem que o Lula estaria comprando um apartamento luxuosíssimo. O fato do MTST ter ido lá e ter filmado e ter mostrado lá o tanquinho de plástico, um fogão muito simples, uma cozinha muito simples, deixou evidente a mentira do processo de Curitiba. Fórum – Nesta semana, Aécio virou réu e Azeredo poderá ser preso na semana que vem. Como analisar essas condenações e o que a direita tem dito que seria compensação por Lula? Gleisi Hoffmann – Primeiro, tem a figura do boi de piranha, o Aécio é o “tucano de piranha”, porque o Aécio já estava enrolado, não tinha como salvá-lo, tem vídeo gravado, tem a irmã comprometida também com provas, tem prova de que recebeu dinheiro, estava pedindo dinheiro, ou seja, era muito difícil livrar o Aécio, e olha que eles tentaram livrá-lo. Fizeram de tudo para que Aécio pudesse ser liberado e não conseguiram, como foram muito em cima do Lula tiveram que entregar alguém. O Azeredo é muito de lá de trás, da época que nos acusaram do mensalão, até agora está aí, então que compensação? Queria saber se fariam e têm coragem de ir para cima do Alckmin, que é o candidato que eles estão tentando viabilizar. O Alckmin que foi pego em uma delação da Odebrecht dizendo que ganhou 10 milhões de reais, colocaram para a Justiça Eleitoral como caixa dois, sequer chamaram o Alckmin para ouvir ao vivo, tomaram o depoimento do Alckmin por escrito. O Lula, conduziram coercitivamente. Existe muita diferença de tratamento, não conseguem mostrar que são isentos de jeito nenhum. Fórum – Senadora, poderia comentar a declaração da senadora Ana Amélia (PP-RS), sobre sua entrevista à Al Jazeera? Gleisi Hoffmann – Dei uma entrevista a Al Jazeera, como estou falando com a Revista Fórum, como falei com a BBC de Londres, como falei com a TV de Portugal. Estou falando o mesmo conteúdo, a denúncia de que o Lula é um preso político inocente, que foi condenado injustamente. Nós estamos em campanha pela sua liberdade. Fiquei impressionada com a reação de setores da sociedade brasileira quanto a essa entrevista porque não foi uma reação à minha fala, foi uma reação ao veículo de comunicação Al Jazeera, por ignorância, por falta de informação, por má fé por preconceito, xenofobia, uma coisa indecente em relação à comunidade árabe. Ainda bem que não é a maioria do povo brasileiro que pensa assim. Sou de um estado, o Paraná, que tem uma comunidade árabe muito grande. O que essa senadora do sul fez é injustificável, é uma ação contra o povo árabe, nos cabe aqui a prestar nossa solidariedade, defender os árabes e palestinos. Hoje nós temos 12 milhões de árabes e palestinos no Brasil, é muita gente e que ajuda essa país. Temos que denunciar esse preconceito e dizer para o mundo árabe que isso não é o Brasil, que isso é uma parte pequena de gente que é xenófoba, ignorante, violenta. São os mesmos que atacaram a caravana do presidente Lula pelo Sul.