Em entrevista concedida ao jornalista Mino Carta, da Carta Capital, nesta terça-feira (19), o ex-presidente Lula comentou sobre o fenômeno que fez com que Jair Bolsonaro chegasse à Presidência. Segundo ele, a vitória do ex-capitão faz parte de um projeto da elite brasileira e ganhou respaldo do povo por conta das notícias falsas que dominaram as redes sociais no período eleitoral.
"É normal que tenha gente do povo que vote em conservadores, e a gente não pode ver essas pessoas como inimigas, mas as pessoas votas muitas vezes pela quantidade de informações que elas recebem e, na última eleição, as informações [eram fake news]. E agora está ficando claro. Agora está ficando claro o processo eleitoral de 2018. O seu Paulo Marinho agora aparece como delator, mas ele é cúmplice do Flávio Bolsonaro, participou das mentiras, participou dos fake news", declarou.
"Agora aparece um monte de gente na televisão fazendo uma espécie de auto-crítica. 'Ai, eu não sabia que era assim', 'Ai, pensei que era assado', todo mundo inventando uma história com vergonha de dizer: 'votamos para derrotar o PT porque estávamos cansados de ver a ascensão social'", completou.
Segundo o ex-presidente, Bolsonaro é o resultado de um processo histórico brasileiro baseado em uma elite "predatória" e "grotesca. "Essa elite que nunca permitiu que houvesse alternância de poder no sentido de alternância de classe. A elite brasileira é a coisa mais grotesca que esse país produziu", disparou.
"Nós somos esse espermatozóide fecudado pela elite brasileira no século XIX e do século XVII que não permitia que a população tivesse acesso a livros. Hoje eu compreendo melhor a razão de tanto ódio contra o PT. Nós fizemos as coisas elementares que qualquer cidadão civilizado faria. A elite grosseira que pariu Bolsonaro. Há um preconceito na medula da elite brasileira", avaliou.
O ex-presidente ainda comentou sobre a Lava Jato e afirmou que ela se trata de "um projeto de poder elaborado dentro do Departamento de Justiça dos Estados Unidos". "Eles nunca aceitaram a lei da partilha do Pré-Sal. Não era possível que os americanos vissem um país que sempre foi o quintal deles fazer a maior descoberta de petróleo do século XXI. Para os EUA petróleo é um projeto de poder militar", completou.
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