Lula sinaliza rumos da economia e neoliberais ligam modo pânico na mídia

Bastou Lula sinalizar que passará longe da cartilha neoliberal para que defensores do sistema financeiro na mídia e na política retomassem a ladainha sobre as "dúvidas sobre qual será o projeto econômico".

Lula durante encontro com movimentos de produtores rurais (Foto: Ricardo Stuckert)
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Bastou Lula sinalizar quais serão os rumos da política econômica, com um tuite elogiando a retomada dos direitos trabalhistas por Pedro Sanchez na Espanha, para os aduladores do sistema financeiro e do fracassado neoliberalismo ligarem o modo pânico na internet e sites de jornais.

Principal porta-voz da burguesia e do sistema financeiro, o jornal O Estado de S.Paulo retomou a ladainha sobre as "dúvidas sobre qual será o projeto econômico de Lula".

"A pressão sobre Lula é um efeito colateral das dificuldades da terceira via: como o ano virou sem que tivesse aparecido um nome capaz de fazer frente ao petista e a Jair Bolsonaro, o mercado financeiro, o centro e o setor produtivo do País acham que já é hora de pedir mais clareza sobre o pensamento econômico de Lula", dizem Alberto Bombig e Camila Turtelli na edição desta quarta-feira (5) do jornal.

O texto deixa sob nuvens o que a consultoria Eurasia Group já escancarou ao setor financeiro: não há chances para a terceira via e Lula deve ser eleito, mesmo com uma tentativa de golpe de Jair Bolsonaro (PL).

O Estadão cita Guido Mantega para dizer que está "pegando muito mal entre empresários, mercado e políticos de centro as sinalizações de que Guido Mantega poderá, de alguma forma, compor a equipe da campanha presidencial petista".

"O ex-ministro da Fazenda, como se sabe, foi um dos responsáveis pelo desastre econômico do final dos anos Dilma Rousseff", diz o jornal, sem mencionar os achaques do Congresso, que criaram uma bomba-relógio nas contas públicas sob a batuta de Eduardo Cunha, e nem a passagem de Joaquim Levy pela pasta, que levou ao aprofundamento da crise.

Maia defende a reforma na Folha e no Valor

Um dos principais artífices das reformas neoliberais do governo golpista de Michel Temer (MDB), entre elas a trabalhista - aprovada a toque de caixa sob promessa de mais empregos -, Rodrigo Maia (Sem partido-RJ), secretário do governo João Doria (PSDB), ganhou repercussão nas páginas da Folha de S.Paulo e do Valor, do grupo Globo.

"As leis trabalhistas da ditadura [de Getúlio] Vargas, que foram reduzidas em 2017, estão no caminho correto. Tem proteção, sim, diferente do que muitos pensam e elogiam sobre a matriz econômica da China, que não tem nenhum tipo de proteção social, o bem-estar social tão defendido pela esquerda de forma correta. Mas tenho certeza que não é isso que a esquerda vai defender, um país como a China, que não tem lei previdenciária, trabalhista", disse Maia, fazendo coro com os bolsonaristas sobre o "comunismo chinês" e colocando a culpa não "na boa reforma trabalhista que fizemos, mas na questão estrutural".

Segundo ele, revogar a reforma iria "engessar o mercado de trabalho". Maia ainda desdenha dizendo que há "recuperação do emprego sempre no emprego precário, na informalidade" e diz que o "Brasil não vai voltar a crescer criando restrições, criando um Estado paternalista".

Ciro critica Mantega para buscar espaço na finada terceira via

Nas redes, Ciro Gomes (PDT) criticou artigo de Guido Mantega na Folha de S.Paulo, em que o ex-ministro defende o que já foi feito durante os governos do PT: colocar o Estado - e não o mercado, como querem os neoliberais - como indutor da economia.

"O que está em jogo nas próximas eleições é se continuaremos com a política econômica desastrosa do governo Bolsonaro e de outros candidatos neoliberais, ou se vamos retomar a via do social-desenvolvimentismo rumo ao Estado de bem-estar social", escreve Mantega, citando números e fatos.

"A pobreza caiu de 26,7%, em 2002, para 8,4%, em 2014. Pela primeira vez, em 500 anos, a renda dos mais pobres cresceu mais do que a dos mais ricos e a desigualdade diminuiu no país. Foi assim que o Brasil saiu do mapa da fome e tornou-se o sexto maior PIB (Produto Interno Bruto) do mundo, em 2011", diz.

Sem dados, Ciro ataca com seu habitual palavrório - "cinismo", "araque". "O lulismo já reedita o famoso álibi da 'herança maldita', agora com sinal invertido e duplicado. Quem temia que a proposta econômica do petismo fosse o 'mais do mesmo' ficou ainda mais frustrado: é o 'menos do mesmo'", brada Ciro, buscando um lugar ao sol no debate.

Lula já havia sinalizado na Europa: luta pela desigualdade

Durante seu giro pela Europa, quando encontrou Sanchez, Emmanuel Macron (França) e Olaf Scholz (Alemanha), Lula já havia sinalizado o que deve direcionar sua política econômica.

A luta pela desigualdade tem que ser uma bandeira nossa, da esquerda. A gente pensa em muita coisa, mas às vezes a gente esquece das pessoas que não têm sindicato, que não têm organização, das pessoas que não podem nem fazer protesto. Porque o faminto não faz a revolução. O faminto está fragilizado. E nós que temos que estender a mão para eles. Nós é que temos que ser as pernas deles”, disse Lula durante o “Construindo o futuro: desafios e alianças populares”, convocado pelo Podemos da Espanha.

Além da questão dos direitos trabalhistas, Lula coloca como prioridade o investimento em Educação e Ciência e Tecnologia - esta primeira desmontada desde o golpe - em artigo com o ex-ministro Sérgio Machado Rezende.

“Na virada do século, o país [China] investia US$ 40 bilhões em C&T, enquanto os investimentos nos Estados Unidos eram de US$ 300 bilhões. A China implantou uma política de Estado para desenvolver a ciência, no âmbito de um superministério, e hoje investe mais de US$ 400 bilhões em C&T”, diz o texto, ressaltando que das estratégias anunciadas pela China, nove estavam no Plano de Ação em Ciência, Tecnologia e Inovação (PACTI), executado pelo PT no Brasil entre 2007 e 2010.

Após amargar 580 dias de uma prisão injusta após um golpe parlamentar que jogou o Brasil em um governo misto de fascismo com neoliberalismo, Lula tem deixado cada dia mais clara a política econômica que almeja em um novo mandato. E ela passará longe daquilo que desejam o sistema financeiro e os defensores do neoliberalismo.

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