Filho de produtores rurais de Bom Sucesso, cidade de pouco mais de 17 mil habitantes ao sul de Belo Horizonte, Reginaldo Lopes viveu na pele a transformação feita por Lula no Brasil. Aos 48 anos, o mineiro foi eleito por aclamação o novo líder do PT na Câmara Federal no lugar do gaúcho Elvino Bohn Gass e vai comandar a maior bancada de oposição ao governo Jair Bolsonaro (PL) no ano eleitoral de 2022, quando o operário pode voltar ao Planalto.
Para isso, Lopes abriu mão da disputa ao governo de Minas e deve tentar uma vaga no Senado no próximo pleito enquanto Lula busca unir o Brasil, segundo ele, contra o bolsonarismo.
"A postura madura com que o ex-presidente vem conduzindo os caminhos para a superação do bolsonarismo certamente ajudará a distensionar relações e a unir o Brasil", disse Lopes à Fórum.
Economista formado pela Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ) e autor do projeto que deu origem à Lei de Acesso à Informação (LAI), Lopes tem como um dos principais desafios frente à bancada desmontar o bunker montado por Bolsonaro e Paulo Guedes, ministro da Economia, para comprar votos de deputados por meio do "orçamento secreto" e tratorar pautas neoliberais.
Leia a entrevista na íntegra
Fórum: Quais as prioridades no trabalho da bancada petista na câmara no ano eleitoral de 2022?
Reginaldo Lopes: Independente de ser ou não ano eleitoral, a maior bancada de oposição da Câmara tem a obrigação de seguir apresentando alternativas ao desgoverno Bolsonaro e sua agenda de destruição. Nossa prioridade é ser uma oposição propositiva, que pense no Brasil, e não em si própria, e que represente a resistência ao projeto autoritário de Bolsonaro. O PT tem uma responsabilidade grande com o país e com o povo brasileiro e estará ao lado dele. Precisamos reencontrar o caminho da geração de empregos, do crescimento econômico e da soberania, acabando com a atual política de preços da Petrobras, por exemplo. E aliar tudo isso a uma mudança na estrutura tributária, deslocando a incidência de imposto do consumo para renda e patrimônio e garantindo uma nova industrialização, adequada ao século XXI.
Fórum: Você é pré-candidato ao governo de Minas. Como conciliar Câmara e campanha?
Reginaldo Lopes: Sempre estive à disposição do PT para ajudar na construção da melhor chapa possível em Minas Gerais, que eleja Lula presidente e aponte um caminho melhor para o povo mineiro. Meu nome foi levantado para o governo, mas Lula entendeu ser melhor eu ser pré-candidato ao Senado. Tudo será feito a seu tempo e conciliando com as grandes responsabilidades que a Liderança exige.
Fórum: Acredita que, com as eleições, a base governista pode se desmantelar caso Bolsonaro continue derretendo nas pesquisas? De que forma fazer esse desmantelamento diante da compra de apoio com o orçamento secreto?
Reginaldo Lopes: Temos a missão de denunciar e de nos comunicar diretamente com a sociedade para contar a todos e todas o que acontece no Parlamento. Com o povo na jogada, será mais difícil que o governo consiga seus objetivos. Ainda que imagine que a base de Bolsonaro diminua com a queda nas pesquisas, a agenda ultraliberal de Paulo Guedes seguirá em curso e não podemos relaxar no enfrentamento a ela.
Fórum: A frente ampla construída por Lula, que busca atrair até mesmo quadros da base do governo, como a ala do MDB, pode ajudar na articulação no Congresso?
Reginaldo Lopes: A simples presença de Lula no debate político já faz bem ao país e a postura madura com que o ex-presidente vem conduzindo os caminhos para a superação do bolsonarismo certamente ajudará a distensionar relações e a unir o Brasil.