Marielle e a "Janela de Oportunidade"

Jovem, negra e periférica, a vereadora denunciava a truculência e as violações de Direitos Humanos praticadas pelas forças de segurança no contexto da intervenção federal no Estado

Marielle Franco. Foto:Mário Vasconcellos/CMRJ
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Por Camilo Vannuchi* "Mataram um estudante; podia ser seu filho", reagiram os resistentes após o assassinato do secundarista Edson Luís, 18 anos, em 28 de março de 1968, meio século atrás. "Esse eu mandei para a Vanguarda Popular Celestial; você vai ser o próximo", ameaçou o major Carlos Alberto Brilhante Ustra, chefe do DOI-Codi, referindo-se ao universitário Alexandre Vannucchi Leme, 22 anos, morto sob tortura em 17 de março de 1973, há 45 anos. "Temos que entender que a intervenção federal deve ser uma janela de oportunidade. Oportunidade de nós, efetivamente, termos um futuro melhor", discursou o secretário de segurança pública do Rio de Janeiro, General Richard Nunes, ao dar posse ao novo comandante-geral da PM-RJ, o ex-BOPE Coronel Luís Cláudio Laviano, nesta quarta-feira, 14 de março de 2018. Horas depois da posse, a vereadora do Rio de Janeiro Marielle Franco (PSOL), 38 anos, foi executada a tiros - nove tiros! - numa emboscada no centro do Rio. Seus assassinos não levaram o carro nem qualquer objeto, o que reforça a suspeita de que Marielle foi morta porque incomodava. Jovem, negra e periférica, a vereadora denunciava a truculência e as violações de Direitos Humanos praticadas pelas forças de segurança no contexto da intervenção federal no Estado, sobretudo na região de Irajá/Acari, dominada pelo altamente letal 41° Batalhão. Marielle era relatora da Comissão formada na Câmara Municipal para acompanhar a intervenção no Rio. "Militares precisam ter garantia para agir sem o risco de haver uma nova Comissão da Verdade", havia declarado o comandante do Exército, General Eduardo Villas-Boas, no dia 19 de fevereiro. *Jornalista, foi membro da Comissão da Verdade da Prefeitura de São Paulo (2014-2016).