MBL orientava blogs parceiros a produzir fake news contra adversários, diz ex-colaborador

No fim de 2017, o editor de um desses blogs diz ter sido pressionado pelo grupo a escrever textos em apoio a Jair Bolsonaro, que sairia como candidato à Presidência no ano seguinte

Líderes do MBL (Arquivo)
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Autores de blogs que ganharam popularidade entre 2016 e 2018, graças ao Movimento Brasil Livre (MBL), afirmam que o conteúdo publicado nesses sites era produzido a partir de orientações do grupo para atacar adversários através de fake news. No fim de 2017, o editor de um desses blogs diz ter sido pressionado a escrever textos em apoio a Jair Bolsonaro, que sairia como candidato à Presidência no ano seguinte. "Embora eu não publicasse notícias falsas no Jornalivre, membros do MBL frequentemente nos pediam para fazer isso. Em alguns casos, eles mesmos, com acesso ao site, publicavam estas notícias, que eu tratava de excluir assim que descobria", afirma Roger Roberto Dias Andre, o Roger Scar, editor-chefe do Jornalivre, blog amplamente compartilhado pelo MBL entre 2016 e 2018. A afirmação de Roger está em uma carta que ele enviou a deputados federais após o início dos trabalhos da CPMI das Fake News, na semana passada. Ele também afirma que, no início do Jornalivre, recebia R$ 700 por mês para escrever textos no blog. Algum tempo depois, passou a receber R$ 2.000, assim como uma parte da receita com anúncios do site. No texto, ele diz ainda que o Jornalivre era comandado pelo consultor de tecnologia Carlos Augusto de Moraes Afonso, mais conhecido como Luciano Ayan, que também mantinha o blog Ceticismo Político. Segundo Roger, Ayan atuava como um intermediário entre o MBL e o Jornalivre. "Quando o MBL tretava com alguém, por exemplo, o (deputado federal) Rodrigo Maia (DEM-RJ), o Ayan chegava com 'a ordem do dia'. Naquele dia, ele queria que a gente buscasse qualquer coisa útil para publicar contra o Rodrigo Maia, e não precisava ser nada comprovado. Aí, passava algum tempo, às vezes eram dias ou apenas horas, e o MBL fazia as pazes com o Maia. Então, ele pedia para cessar os ataques", afirma ao UOL o editor do Jornalivre. O MBL alega que as declarações de Roger são "caluniosas e mentirosas" e que nunca atuou através de manipulação. "A nossa luta é pela democracia e a liberdade de expressão em bases verdadeiras e sem qualquer tipo de manipulação", diz o grupo. "Acima de tudo, nós do MBL rechaçamos a produção e divulgação de notícias falsas". Apoio a Bolsonaro No fim de 2017, Roger Scar diz que Ayan e um dos fundadores do MBL, Renan Santos, começaram a pressioná-lo para que o Jornalivre publicasse textos em apoio a Jair Bolsonaro (PSL), que concorreria no ano seguinte à Presidência da República. Ele afirma que rejeitou a ideia e, por conta disso, Ayan e o grupo de jovens liberais teriam decidido criar um outro site para publicar as notícias que os interessavam, o blog O Diário Nacional.