Miriam Leitão afirma que Moro jamais poderia trabalhar com Bolsonaro após prender Lula

"O pior erro cometido pela Lava-Jato foi deixar-se usar politicamente e parecer bolsonarista. Isso foi ótimo para o grupo que chegou ao Planalto, mas prejudicial aos objetivos da operação”, escreveu a colunista

Miriam Leitão e seu filho, Vladimir Netto, com Sérgio Moro durante lançamento da biografia do então juiz, escrita por Netto (Foto: Reprodução)
Escrito en POLÍTICA el
A jornalista Miriam Leitão, desde sempre entusiasta da Lava Jato, finalmente reconheceu, em sua coluna no Globo deste domingo (11), que houve uso político da operação, sobretudo depois que o ex-juiz, Sério Moro, resolveu aceitar o cargo de ministro da Justiça no governo do presidente Jair Bolsonaro (PSL-RJ). "O pior erro cometido pela Lava-Jato foi deixar-se usar politicamente e parecer bolsonarista. Isso foi ótimo para o grupo que chegou ao Planalto, mas prejudicial aos objetivos da operação. O movimento anticorrupção é amplo, e o presidente Jair Bolsonaro não é um modelo de ética. A manipulação política ficou mais fácil quando o juiz Sergio Moro tirou a toga e foi para o Ministério da Justiça", afirma ela, em sua coluna. "Moro deveria saber, mas não soube, que como foi da caneta dele que saiu a sentença que acabou afastando o candidato que estava em primeiro lugar nas pesquisas, ele jamais poderia ir trabalhar com o que estava em segundo e acabou beneficiado, vencendo a eleição. Desde que assumiu, só se enfraqueceu", afirma ainda a jornalista. Na sequência do artigo, ela deixa claro que Moro a cada dia se vê obrigado a defender um governo no mínimo controverso: "Quando Moro assumiu, disse que estava cansado de levar bola nas costas. É o que mais tem feito atualmente. Se foi para o governo de olho numa vaga no STF, calculou errado: o tempo de espera é longo e para ele ter o prêmio terá que sempre fechar os olhos para os inúmeros fatos que antes condenava: o laranjal do ministro do Turismo, a rachadinha no gabinete do filho do presidente, as inúmeras vezes em que o presidente feriu o princípio da impessoalidade. Para Bolsonaro, tudo é pessoal. Todas as decisões que toma, ele mesmo anuncia que têm razões pessoais: do filé mignon para os filhos ao ataque aos jornais. Para quem, como Moro, fez uma carreira combatendo a improbidade administrativa fica incoerente. Para dizer o mínimo", afirma a jornalista. Filho da colunista é biógrafo do ex-juiz Vladimir Netto, filho de Miriam Leitão e repórter da TV Globo, é autor do livro “Lava Jato – O juiz Sergio Moro e os bastidores da operação que abalou o Brasil”, lançado em 2016. Uma das nomeadas por Moro para trabalhar no seu gabinete, assim que assumiu o ministério, foi Giselly Siqueira, esposa de Vladimir. A jornalista pediu demissão em julho.

Temas