Misoginia: Ilona Szabó mudou de país depois de sofrer ataques incentivados por Bolsonaro

A cientista política, especialista em segurança pública, foi citada no discurso do presidente como "abortista" e "defensora da ideologia de gênero", questões que sequer são de sua área

Foto: Reprodução/GloboNews
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A cientista política Ilona Szabó, nomeada por Sergio Moro, exonerada por Jair Bolsonaro no ano passado e citada por ele em seu discurso sobre a saída de Moro como "defensora do aborto e da ideologia de gênero", declara que o presidente incentiva os ataques a mulheres nas redes sociais, e que essas agressões se desdobram para além delas. Ela aproveitou, em 2019, uma bolsa em uma universidade americana para ir embora do país.

No começo do ano passado, Moro a nomeou para o cargo de suplente no Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária. Bolsonaro, assim que soube da indicação, a exonerou. Em seu discurso de sexta (24), Bolsonaro disse que Ilona era “abortista" e defendia a "ideologia de gênero”. Presidente do Instituto Igarapé, Ilona tem experiência e é reconhecida internacionalmente no estudo de questões de segurança pública. 

Em entrevista à revista Marie Claire, Ilona conta que precisou deixar o país devido a ataques e perseguições que ultrapassaram as barreiras imaginárias das redes sociais. Ela aproveitou a possibilidade de uma bolsa e  mudou-se para Nova York, onde se dedicou ao estudo das perseguições virtuais. “Há um fechamento do espaço cívico no Brasil", disse Ilona.

Sobre ser chamada de "abortista e defensora da ideologia de gênero", Ilona declarou: "impressionante porque é a segunda vez que ele faz isso. Prefere citar temas que não são minhas pautas de trabalho. Também não sei o que é ideologia de gênero, gostaria que alguém me explicasse. O presidente sabe claramente quais são as minhas posições. Temos muitos pontos de diferença e o principal deles é o controle de armas. Trabalho pela regulação responsável de armas. E acho que ele faz isso, especialmente com mulheres, para jogar outros grupos que têm posições mais radicais contra a gente. Tem um grupo forte, do lobby das armas, das pessoas que acham que armar todo mundo é um caminho, ele quer juntar mais gente para me perturbar nas redes sociais. Obviamente isso não fica só nas redes sociais".

Ilona conta que é alvo de ataques há bastante tempo, mas que isso se agravou a partir de 2017. "Vi animosidades em lugares públicos, indo pegar uma ponte aérea, eventos. Mas infelizmente no governo Bolsonaro os ataques têm outros desdobramentos. Tivemos que tomar uma série de medidas de segurança no Instituto Igarapé, mudar a sede. Fui passar um tempo fora do Brasil, fazer um fellowship" disse ela à revista. Ela contou que queria fazer uma reflexão, mas os receios acerca da segurança de sua família e das pessoas que trabalhavam com ela a freavam. "Tive oportunidade de fazer uma pesquisa sobre o fechamento do espaço cívico no Brasil. Conversei com pessoas: jornalistas, artistas, gente que havia saído do governo, para saber dos desdobramentos dos ataques online na vida pessoal delas. E são muitos. Inclusive porque tem chantagens, intimidações, outro tipo de monitoramento que nos coloca em um momento bastante crítico. Os ataques não são só online, vão para a vida pessoal, institucional e profissional", finalizou Ilona.

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