Moro: "ninguém se torna cúmplice do Bolsonaro por ter querido realizar seus sonhos"

Ex-ministro disse que não se arrepende de ter aceito cargo no governo Bolsonaro. Alvo de pedido de CPI pelos ganhos na Alvarez & Marsal, Moro reagiu como o ex-chefe ao ser indagado sobre o tema: "Quanto você ganha como jornalista?"

Jair Bolsonaro e Sergio Moro | Foto: Marcos Corrêa/PR
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Alçado ao "super" Ministério da Justiça após prender Lula (PT) e influenciar diretamente as eleições de 2018, Sergio Moro (Podemos) diz não se arrepender de ter feito parte do governo Jair Bolsonaro (PL) em longa entrevista ao Estadão nesta segunda-feira (24).

"Outros abandonaram o governo antes, ao perceber que as promessas não eram reais, mas ninguém se torna cúmplice do Bolsonaro por ter querido realizar seus sonhos, que na verdade são sonhos para o País também", disse em relação à sua demissão, emendando que "de forma nenhuma" se arrepende de ter assumido cargo no governo.

Moro ainda sinalizou que viu "uma espécie de golpe de estado" por parte de Bolsonaro ao comentar sobre a economia.

"O crescimento econômico depende principalmente do elemento confiança e essa confiança foi rompida, tanto pelos discursos erráticos do presidente da República em matéria econômica, como por exemplo relativas a interferências arbitrárias no mercado ou mesmo ao planejamento, no ano passado, de uma espécie de golpe de Estado".

No entanto, o pré-candidato do Podemos recuou ao ser indagado "quando Bolsonaro tentou um golpe de Estado?".

"Não que ele tenha tentado, mas passou o ano passado inteiro falando em questionar a legitimidade das eleições, em realizar movimentos agressivos contra as instituições. O abalo que isso trouxe à credibilidade do Brasil e igualmente a nossa economia… Muita gente atribui essa escalada gigante do dólar no ano passado, a elevação da inflação, do preço dos alimentos e dos combustíveis a esse destempero verbal do presidente", disse.

Alvo da CPI

Potencial alvo de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar seus ganhos milionários na consultoria estadunidense Alvarez & Marsal, que realiza recuperação judicial de empresas quebradas pela Lava Jato, Moro resiste em abrir o valor recebido na empresa entre novembro de 2020, quando foi empregado ao deixar o governo, e outubro de 2021, quando saiu para se tornar pré-candidato à Presidência pelo Podemos.

"Não me curvo ao abuso. E esse processo no TCU é parte de uma fantasia, sobre algo que não existe", afirmou.

Em seguida, instado a abrir o valor para os leitores do jornal, Moro recuou mais uma vez à lá Bolsonaro.

"Aí estamos entrando numa questão privada. Quanto você ganha como jornalista? São questões inapropriadas".