Mulheres negras ligadas ao MTST formam chapa coletiva para disputar vaga na Câmara de São Paulo

A chapa “Juntas - Mulheres Sem-Teto”, formada por Jussara, Débora e Tuca, líderes do MTST, busca trazer visibilidade para áreas periféricas e construir uma cidade que garanta direitos, em especial para mulheres negras

Foto: Divulgação
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Três mulheres negras, Jussara Basso, Débora Lima e Valdirene Cardoso (Tuca), ligadas ao Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST), resolveram se juntar em um mandato coletivo e disputar um cargo para a Câmara Municipal de São Paulo.

As três são lideranças forjadas no próprio MTST e o objetivo da chapa "Juntas - Mulheres Sem-Teto", segundo elas, é trazer a periferia para o centro.

A chapa coletiva pretende ser uma nova forma de representação, tentando aproximar a atividade política do povo. O objetivo é operar a política com a proposta de fóruns abertos de participação popular no mandato, formas virtuais e presenciais de colaboração e transparência da atuação da chapa coletiva.

Além da luta pela moradia digna, as três querem ser as representantes, na Câmara Municipal, das mulheres periféricas negras, historicamente marginalizadas pelo sistema. Estão no centro das pautas abordadas pela candidatura a disputa por um orçamento descentralizado, que considere as desigualdades da cidade de São Paulo, garantindo participação popular nas decisões e mais investimento nas periferias da cidade para a realização de uma educação de qualidade; um sistema de saúde digno; o combate à violência contra a população negra periférica; a luta por melhorias no transporte público e por uma cidade segura para as mulheres; entre outras pautas.

Jussara Basso

Jussara Basso é militante pelos direitos das mulheres e poetisa. Trabalha desde os 14 anos de idade, é mãe solo e ingressou no movimento sem-teto em 2012, por meio da ocupação do Novo Pinheirinho, em Embu das Artes (SP). Uma das fundadoras do Coletivo de Mulheres do MTST, atualmente reside na zona sul de São Paulo, onde coordena a comunidade Vila Nova Palestina, uma das maiores ocupações do Brasil, que abriga mais de 2 mil famílias há sete anos. A candidata ainda é colunista da Mídia Ninja. Além de construir o MTST e coordenar as ocupações, faz as negociações com o poder público para a resolução das moradias das famílias da comunidade e participa da formação interna com o povo. É uma liderança importante no fundão do Jardim Ângela, sendo uma referência no movimento de cultura periférica, da luta pela duplicação da M’Boi Mirim, da luta pelo transporte de qualidade e uma das organizadoras do Levante da Periferia, que organiza a luta do 20 de Novembro na periferia da cidade.

Débora Lima

Já Débora Lima, que atualmente coordena ocupações em algumas regiões de São Paulo, em especial a comunidade Marielle Vive, ingressou no movimento sem-teto também em 2012. Mãe, preta, bissexual e professora, teve trajetória de luta que transferiu para a resistência dos sem-teto. Organiza o coletivo LGBT Sem Medo, que reúne diversos coletivos LGBTs e é fundadora do “Coletivo LGBT Sem Teto”, um grupo que organiza a luta LGBT dentro do MTST e nas comunidades periféricas.

Tuca

Vinda de Itaquera, zona leste de São Paulo, Tuca também cresceu em meio à pobreza e ao descaso do poder público. Trabalhadora, encontrou no MTST uma casa na qual poderia lutar pelos próprios direitos e pelo dos outros. É o que fez em ocupações como o Dandara, uma grande vitória do movimento que garantiu a construção de prédios para moradia em um terreno abandonado. Tuca vê no investimento nos jovens a força para o levante da periferia e a conquista de novos direitos. Ingressou no MTST em 2014, na ocupação Copa do Povo e hoje é a maior liderança do movimento na região. Uma das fundadoras do Coletivo Negro do MTST, Tuca considera a luta antirracista fundamental para a construção de uma cidade verdadeiramente democrática.

“Somos três mulheres pretas, periféricas, feministas, que já conquistaram muito para o nosso povo sem um mandato público, e é por isso que queremos ir além. Não se trata de poder, mas de ocuparmos um espaço que representa o povo paulistano, concentrado em sua maioria nas periferias. Nós sentimos na pele a dura luta por moradia, por ter necessidades básicas, direitos respeitados, e sabemos o caminho para alcançar isso. A luta institucional não é fácil, mas somos mulheres preparadas, cujas propostas serão construídas coletivamente e com a força de nosso movimento”, afirma Jussara.

A candidatura coletiva “Juntas - Mulheres Sem-Teto” concorrerá sob a legenda do PSOL (50), ao lado da campanha de Guilherme Boulos, prefeito, e Luiza Erundina, vice.