"Não há como nos manifestar", diz Planalto sobre suposto envolvimento de Bolsonaro com rachadinhas

Nota da Secretaria de Comunicação da presidência diz que gravações divulgadas pelo UOL, que provariam que Bolsonaro comandava esquema de corrupção, estão "fora de contexto"

Foto: Marcos Corrêa/PR
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Em nota divulgada nesta segunda-feira (5), a Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República (Secom) disse que "não há como nos manifestar" sobre as gravações divulgadas mais cedo pelo portal UOL que provariam que Jair Bolsonaro comandava o esquema de corrupção conhecido como "rachadinhas" que ocorreria em seu gabinete quando deputado federal e nos gabinetes de seus filhos.

Segundo o Palácio do Planalto, os trechos do áudio em que a fisiculturista Andrea Siqueira Valle, ex-cunhada do presidente, confirma que Jair comandava a devolução ilegal de até 90% dos salários de assessores, estavam "foram de contexto".

"Considerando que não tivemos acesso à íntegra das gravações divulgadas pelo UOL, mas apenas a trechos fora de contexto, sem mais informações sobre data e hora, não há como nos manifestar. A construção da narrativa, tal qual feita pelo UOL, por meio da divulgação de trechos sem contextualização cronológica parecem ter como intuito induzir o leitor/expectador (sic) a conclusões precipitadas por carecer de contexto", diz a nota.

Antes, a defesa do senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ) havia divulgado uma nota em que classifica as gravações como "clandestinas" e que, assim como o Planalto, estaria "impedida" de comentar o conteúdo das denúncias.

CPI da Rachadinha

O líder do Cidadania no Senado, Alessandro Vieira (SE), anunciou nesta segunda-feira (5) que vai protocolar um pedido para a instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar o esquema de corrupção conhecido como “rachadinhas” que teria sido praticado no gabinete do presidente Jair Bolsonaro quando era deputado federal e de seus filhos.

“Ninguém está acima da lei. Os fatos narrados são graves e exigem apuração imediata. Apresento hoje o pedido de CPI da Rachadinha. Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará (João 8:32)”, disse o senador, fazendo referência ao trecho bíblico recorrentemente citado pelo titular do Palácio do Planalto.

Randolfe Rodrigues (Rede-AP), vice-presidente da CPI do Genocídio, que apura erros e omissões do governo Bolsonaro no combate à pandemia, já manifestou seu apoio, o de seu partido e também o da oposição no Senado à proposta de Vieira.

A denúncia

Em uma série de reportagens publicada nesta segunda-feira (5) pelo portal UOL, a jornalista Juliana Dal Piva revela um áudio em que a fisiculturista Andrea Siqueira Valle, ex-cunhada do presidente, confirma que Jair comandava o esquema de corrupção em que funcionários fantasmas dos gabinetes dele e dos filhos – Flávio e Carlos – devolviam até 90% dos valores recebidos em salários para o clã.

No áudio, Andréa revela que o irmão, André Siqueira Valle, foi exonerado do gabinete de Jair Bolsonaro na Câmara dos Deputados em 2007 por não devolver “o dinheiro certo que tinha que ser devolvido”, de cerca de 90% do salário. Andréa e André são irmãos de Ana Cristina Valle, segunda esposa de Jair e mãe de Jair Renan Bolsonaro.

“O André deu muito problema porque ele nunca devolveu o dinheiro certo que tinha que ser devolvido, entendeu? Tinha que devolver R$ 6.000, ele devolvia R$ 2.000, R$ 3.000. Foi um tempão assim até que o Jair pegou e falou: ‘Chega. Pode tirar ele porque ele nunca me devolve o dinheiro certo’. Não sei o que deu pra ele”, diz Andrea no áudio. Saiba mais aqui.