Não sabem o que é soberania: Haddad faz crítica contundente a militares

"Pelo jeito, restará ao povo deste novo protetorado americano vender bijuterias de nióbio em Angra dos Reis", afirma Haddad na conclusão do seu artigo na Folha.

Fernando Haddad (Foto: Agência Brasil)
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Em artigo publicado na edição deste sábado (3) do jornal Folha de São Paulo, O ex-ministro da Educação Fernando Haddad faz uma crítica aos setores militares por não não conseguirem assimilar plenamente o conceito  de soberania popular. "Assim como Getúlio (quando os militares lhe retiraram o apoio) e Jango, Lula parece ter sido vítima de um sentimento antipopular refratário à promoção da incorporação das massas via participação no mercado e na política", escreveu Haddad candidato que assumiu o lugar do ex-presidente Luis  Inácio Lula da Silva na eleição presidencial de 2018. Citando o historiador José Murilo de Carvalho, Haddad observa que cinco das sete Constituições brasileiras, inclusive a atual, atribuem papel político às Forças Armadas "como como se a República precisasse de uma bengala e a democracia não pudesse resolver os problemas nacionais nos seus próprios termos."

Manifestações preocupantes

O ex-ministro destaca que a manifestação de natureza política do general Villas Bôas às vésperas da análise de um pedido de habeas corpus para o ex-presidente Lula durante a corrida eleitoral foi danosa às instituições democráticas. "Embora a mensagem do general falasse de respeito à Constituição, na realidade a agredia, pois pressionava um poder da República a contrariá-la", opina Haddad. Embora a história brasileira tenha registrado diversos momentos uma movimentação nos quartéis para tutelar a política, o ex-ministro vê dois elementos novos no quadro atual. Um deles é "a instrumentalização do Poder Judiciário com fins político-partidários". O outro fato preocupante, prossegue Haddad, é "a deturpação do conceito de soberania nacional, reduzida à ideia de defesa do território". Essa visão, segundo o ex-ministro, denota uma capitulação incondicional à agenda ultraliberal do ministro Paulo Guedes, que manifesta a intenção de vender todas as estatais brasileiras. Muitas dessas empresas, de caráter estratégico, foram defendidas pelos militares ao longo dos anos. "Pelo jeito, restará ao povo deste novo protetorado americano vender bijuterias de nióbio em Angra dos Reis", conclui o ex-ministro.