Ninguém mais liga para Aécio Neves (ou o primeiro a ser comido)

De nome forte do PSDB a deputado federal escondido no gabinete, mergulhado em denúncias de corrupção, Aécio mal aparece no plenário da Câmara, não posta no Twitter desde setembro do ano passado e, desmoralizado, tem uma interação pífia nas redes sociais

Aécio Neves (Foto: Lula Marques)
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No dia 25 de agosto de 2018 o então senador Aécio Neves (PSDB-MG) fazia o lançamento oficial de sua candidatura a deputado federal em uma fazenda na cidade de Teófilo Otoni, interior de Minas Gerais. Uma multidão de 20 pessoas compareceu, em uma van escolar alugada pela equipe de campanha, para saudar o início da corrida eleitoral do tucano. Em 7 de outubro, dia do primeiro turno das eleições, Aécio foi votar em sua escola e teve uma recepção calorosa dos eleitores que gritavam “golpista” e “ladrão”. Os dois eventos, agora, soam como um prenúncio do que se tornaria a vida daquele que já foi um dos políticos mais prestigiados da direita e da centro-direita. Atropelado pela direita bolsonarista que ajudou a construir com o discurso antipetista e mergulhado em denúncias de corrupção, o tucano, que já chegou a presidir a Câmara dos Deputados e governar Minas Gerais por dois mandatos, apesar de ter conseguido se eleger, sumiu. Conquistados seus mais quatro anos de foro privilegiado na Casa presidida por Rodrigo Maia (DEM-RJ), já que corria o risco de perde-los caso se candidatasse novamente ao Senado, Aécio, diferente de outros políticos de seu partido, rivais, medalhões e novatos, praticamente não interage nas redes sociais. O Twitter do ex-senador foi abandonado. Ele não posta nada no microblogue desde setembro do ano passado. O ambiente foi esquecido, a ponto de a foto de destaque ser ainda uma imagem com seus números de candidato. [caption id="attachment_168969" align="aligncenter" width="462"] Importante ferramenta de comunicação de muitos políticos, o Twitter de Aécio foi abandonado. A última publicação é de setembro do ano passado (Reprodução)[/caption] Já no Facebook, ao menos para mostrar para seus eleitores que está vivo, faz pequenas postagens com intervalos de dois a três dias entre uma e outra. A última foi feita na noite desta quinta-feira (14) e relata um debate do PSDB, realizado em Brasília, sobre Previdência. Em outras postagens – nunca mais de uma por dia – o deputado relembra feitos como senador e governador e na minoria delas trata de temas e debates na Câmara, lugar onde hoje está lotado. O que todas as postagens têm em comum que que chama a atenção é a falta de retorno dos internautas. Desmoralizado com as denúncias de corrupção, o tucano que chegou a ser afastado do senado em 2017 após revelações de pedido de propina à JBS não consegue mais prestígio entre seus 106.702 eleitores. Suas publicações não passam muito das 200 “curtidas” e, raramente, chegam aos mil “likes” – índice pífio para um político experiente como Aécio. [caption id="attachment_168970" align="aligncenter" width="469"] Publicações de Aécio têm retorno pífio no Facebook (Reprodução)[/caption] Para se ter uma ideia, o ex-ator pornô Alexandre Frota (PSL-SP), que está em seu primeiro mandato, costuma a fazer postagens que, facilmente, chegam a 5 mil “curtidas”. [caption id="attachment_168971" align="aligncenter" width="419"] Ex-ator pornô tem mais prestígio nas redes que ex-governador (Reprodução)[/caption] Se o parâmetro for um político que saiu do Senado para se tornar deputado federal, é possível usar como exemplo a petista Gleisi Hoffmann (PR). A presidenta do PT não precisa de muito para ultrapassar os 10 mil “likes” em suas publicações. [caption id="attachment_168972" align="aligncenter" width="429"] Constantemente alvo de ataques, Gleisi Hoffmann ainda tem mais interações que o tucano Aécio Neves nas redes (Reprodução)[/caption] O próprio Aécio já deve estar ciente que não tem mais lá tanto prestígio. Desde jovem vendido como uma liderança, o ex-presidente do PSDB mal foi visto no Congresso este ano. Ele até tem batido seu ponto eletrônico – das 12 sessões deliberativas realizada em 2019, compareceu em 8 -, mas nos bastidores da Casa se fala que o deputado fica a maior parte do tempo em seu gabinete. Até o momento não há sequer um registro de discurso em Plenário daquele que, em 2015, bradou aos quatro ventos que a vitória de Dilma Rousseff, que sacramentou sua derrota, não era legítima. Manchete de sites de notícia esta semana por ter R$1,7 milhões em bens bloqueados por determinação do Supremo Tribunal Federal (STF) e com outros 8 processos acumulados na Corte, o deputado assiste agora a profecia do ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado, se concretizar: “O primeiro a ser comido vai ser o Aécio”.