Novo pedido de impeachment contra Bolsonaro é assinado por ex-presidente da Anvisa

Nova peça, assinada por profissionais de saúde, cientistas e pelo ex-presidente da Anvisa, Gonzalo Vecina Neto, acusa Bolsonaro de crimes de responsabilidade no enfrentamento da pandemia

Gonzalo Vecina Neto, médico sanitarista e ex-presidente da Anvisa (Reprodução)
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O novo presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), logo em sua primeira semana no cargo já vai receber um novo pedido de impeachment contra o presidente Jair Bolsonaro.

Ao longo da gestão de Rodrigo Maia (DEM-RJ) como presidente da Casa, foram apresentados mais de 60 peças pedindo o afastamento do chefe do Executivo. Nenhuma delas foi analisada.

O novo pedido, segundo a jornalista Mônica Bergamo, da Folha de S. Paulo, deve ser protocolado ainda nesta sexta-feira (5) e é assinado por profissionais de saúde, entre médicos, cientistas, enfermeiros e sanitaristas.

Subscrevem o pedido, por exemplo, o fundador e ex-presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Gonzalo Vecina Neto, e José Gomes Temporão, ex-ministro da Saúde.

A nova peça acusa o Bolsonaro de crime de responsabilidade por sua omissão ao longo da pandemia do coronavírus e pela maneira com que conduziu o enfrentamento da crise sanitária.

"Ao invés de trabalhar de modo integrado com governadores e prefeitos, de acordo com o que mandam tanto a lógica de nosso regime federativo, quanto a específica organização política e administrativa do SUS, o sr. Jair Messias Bolsonaro escolheu fazer da pandemia um palco para sua guerra contra potenciais adversários políticos, minando a indispensável cooperação federativa, criando tensão e sabotagem onde deveria haver colaboração, instigando a revolta da população contra prefeitos e governadores", diz um trecho do documento.

O pedido destaca ainda "uma campanha dolosa e deliberada contra medidas hoje mundialmente adotadas, de forma consensual, para o enfrentamento da pandemia" e a disseminação "da ilusão de tratamentos precoces" contra a Covid-19.

Clima pelo impeachment

As primeiras semanas de 2021 foram marcadas, no meio político e também na esfera pública, por um novo impulso pelo impeachment de Jair Bolsonaro. Com novos pedidos sendo apresentados, somando-se aos mais de 60 que foram protocolados nos últimos anos, a tese do afastamento do chefe do Executivo voltou a circular com força em Brasília.

Nas redes sociais, se abriram placares online contabilizando quantos parlamentares são a favor do impeachment e as buscas pelo termo no Google dispararam. O clima foi aumentando na medida em que a pandemia se agravou no Brasil e ficou escancarada a responsabilidade do governo federal no colapso em Manaus (AM), por exemplo, e no atraso da vacinação.

Em entrevista à Fórum na segunda semana de janeiro, o deputado Rogério Correia (PT-MG) chegou a afirmar que 2021 seria “o ano do impeachment”.

O mês de fevereiro chegou e, com ele, fortaleceu-se a candidatura de Arthur Lira (PP-AL), candidato de Bolsonaro à presidência da Câmara, que terminou vencendo o pleito. Ele derrotou Baleia Rossi (MDB-SP), que já havia se comprometido com a oposição em analisar uma das dezenas de peças de impeachment contra o ex-militar.

A eleição de Lira, portanto, acabou frustrando em certa medida àqueles que acreditavam que o impeachment poderia estar se aproximando.

Em entrevista à Fórum, o líder da bancada do PT na Câmara, Enio Verri (PT-PR), concorda que a derrota de Baleia Rossi e a vitória do candidato de Bolsonaro para o comando da Mesa Diretora da Câmara “vai exigir mais esforço” da oposição pelo afastamento do chefe do Executivo e que isso “atrasa” o processo. O petista pondera, contudo, que a possibilidade de um processo de impeachment ser aberto “não está eliminada”.

“É importante destacar que a Câmara responde à pressão da sociedade. O debate não é se a Câmara que vai determinar o impeachment, é a sociedade cobrar de seus parlamentares a votação do impeachment. A última pesquisa apontava que 43% da população é favorável ao impeachment. Se isso chegar a 60%, por exemplo, mesmo que o presidente [da Câmara] não queira, a pressão social e do próprio parlamento fará com que o presidente faça a leitura”, analisa o líder.

Verri se referia, em sua fala, a um levantamento feito no ano passado. Pesquisa do PoderData divulgada nesta quinta-feira (4) mostra que o apoio pelo impeachment de Bolsonaro cresceu: foi de 41% para 46%.

“Embora possa ter se tornado mais lento, o impeachment continua avançando”, pontua o parlamentar.

Confira a íntegra da entrevista com Enio Verri aqui.