O silêncio cúmplice com os helicópteros de cocaína e o barulho da cracolândia

As 774 gramas de crack produzem centenas de minutos em todas as TV e rádios. Os helicópteros repletos de cocaína logo saem de cena.

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No dia 24 de novembro de 2013, a Polícia Federal interceptou a aeronave que pertencia à empresa do então deputado estadual Gustavo Perrella (SD-MG), filho do senador Zezé Perrella (PTB-MG), um dos principais aliados de Aécio Neves, ex-presidente nacional do PSDB, O helicóptero tinha 450 kg de pasta de cocaína e, três horas e meia antes da apreensão pela polícia,teria parado para abastecer a 14 quilômetros da pista de Cláudio, que pertence à família de Aécio Neves. Num aeroporto  construído pelo governo de Minas na gestão de Aécio, que gastou 14 milhões de reais, num município de 25 mil habitantes.. Os pilotos do helicóptero – acusados de tráfico de drogas – chegaram a ser presos, mas foram soltos em abril de 2014 e respondem ao processo em liberdade. Em relação à família Perrela não há, atualmente, por parte da Polícia Federal, nenhuma investigação em relação ao suposto envolvimento do pai ou do filho, que ocupam cargos públicos, com a droga do helicóptero. A imprensa tradicional deu destaque ao assunto nos primeiros dias, mas foi deixando-o cair no esquecimento como se fosse irrelevante que nenhum dos envolvidos neste caso tivesse sido preso até agora. Hoje uma outra aeronave foi apreendida com 653 quilos de cocaína. Ela decolou de uma área cujo proprietário é o ministro da Agricultura Blairo Maggi, também senador. Parecia notícia velha. O caso ganhou destaque pela manhã, mas já havia perdido força durante a tarde. Antes das 18h, quando este post estava sendo finalizado, nos portais o assunto era a sub, da sub, da sub notícia. Nenhuma entrada ao vivo da sede da PF para tratar do assunto. Nenhuma reportagem a partir da dita fazenda do ministro. Nenhuma cobrança de colunistas em relação ao silêncio do ministro. Por outro lado, o tal combate ao tráfico na cracolândia realizado pelo prefeito João Doria, continuava a ter amplo destaque, com imensas reportagens sendo feitas ainda na tarde de hoje, por exemplo, na GloboNews. A situação é tão bizarra e a diferença de uma coisa pra outra tão abissal, que numa das ações espetaculares nessa região, o mentor político de Doria, o governador Geraldo Alckmin, se orgulhava de terem sido apreendidas pela PM "774 g de crack e mais R$ 1,6 mil em dinheiro além de três celulares". As 774 gramas de crack produzem centenas de minutos em todas as TV e rádios. Os helicópteros repletos de cocaína logo saem de cena. A Lava Jato abriu a caixa preta do financiamento político no Brasil. Ela tem muitos problemas, mas este mérito. E se ela é algo importante, não é mais do que uma investigação que precisaria destampar esse esquema do tráfico de drogas no Brasil. Ele está por trás da construção de uma elite com muita influência na política em nível local, nacional e também federal. E que domina postos importantes do judiciário, da polícia e também da mídia. Por isso, o silêncio cúmplice.