Organizador falso de Caravana Bolsonarista fica com dinheiro de participantes

Sujeito que se apresentava como Pablo era, na verdade, Fábio. O dinheiro arrecadado para a caravana não foi suficiente e, até agora, só foi devolvida uma parte dele

Página do site de financiamento coletivo para a "Caravana da Liberdade". Foto: Reprodução
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A Caravana da Liberdade, lançada em abril com o objetivo de levar 3 mil apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) à Brasília em maio, não conseguiu arrecadar fundos suficientes. Pior do que isso, os participantes que já pagaram estão com dificuldades para reaver o dinheiro. O organizador do evento usava nome falso. As informações são do repórter Maurício Businari, no UOL.

O objetivo da caravana, segundo os organizadores, era fazer pressão pelo impeachment dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), o desligamento imediato dos senadores Renan Calheiros (MDB-AL) e Jader Barbalho (MDB-PA) da CPI do Genocídio, além de defender o retorno do voto impresso e auditável. Tudo isso, é claro, manifestando apoio incondicional ao presidente.

Os preços para participação variavam entre R$ 350,00, R$ 450,00 e R$ 550,00, dependendo da região do Brasil de onde partiriam os ônibus fretados. O valor incluiria transporte, locação de banheiros químicos e para banho, tendas, compra de água mineral, café da manhã e almoço.

Caravana não saiu

O mentor da ideia foi um sujeito que se apresentou como Pablo Verdolaga e se dizia empresário radicado na cidade de Natal (RN). Ele tinha um parceiro chamado Marcello Neves, também autodenominado empresário, radicado em Florianópolis (SC). Ele afirmou que auxiliaria Pablo na logística do evento. "O Pablo foi o mentor da história. Eu apenas estou ajudando. Tenho um pouco mais de experiência em logística, já fiz grandes eventos, eventos nacionais, como o Rock in Rio, então conheço bem de logística", afirmou durante uma live.

As contribuições dos ‘conservadores’ começaram a ser efetivadas, mas a caravana nunca saiu do lugar.

Pablo não era Pablo

Os seguidores começaram a cobrar um posicionamento. Os dias se passaram e, diante do silêncio de Pablo, o empresário Marcello Neves começou a desconfiar que havia algo errado. Iniciou uma investigação particular e descobriu que, na verdade, Pablo não era Pablo. Era Fábio.

Neves revelou então aos participantes que os depósitos e os pagamentos via PIX eram feitos não em nome de Pablo Verdolaga, mas sim em nome de um suposto amigo deste, chamado Fábio, que seria Fábio Oliveira Leite.

"Eu não sabia quem era. Eu tinha os dados dele, CPF, dados bancários desse Fábio, mas ele (Pablo) dizia que era um amigo dele. Ele dizia que por conta da movimentação financeira, por conta do Imposto de Renda, os depósitos e transferências seriam no nome desse suposto amigo dele, o Fábio", relembrou na ocasião.

Quando eu percebi que o Twitter dele estava bloqueado e ele não respondia mais as mensagens por WhatsApp, eu falei: 'Não vou assumir essa bucha'. Todo o dinheiro passou pela conta dele, nada passou pela minha conta. Eu tenho família, tenho um nome a zelar. "Marcello Neves, durante a live.

Onde está o dinheiro?

Com o passar dos dias, algumas pessoas começaram a ser ressarcidas, mas centenas de outras, não. E continuavam a cobrar nas redes. Até que uma nova live foi marcada pelo canal Belinha Opressora, realizada nesta quinta-feira (1º), com a promessa de participação de Fábio, que estaria disposto a dar explicações. Mas o empresário não apareceu.

O UOL conseguiu o contato dos advogados nomeados por Fábio Oliveira Leite para cuidar do caso. A decisão de contratar os defensores surgiu após alguns seguidores publicarem dados pessoais dele, como CPF, número de conta bancária e também por conta dos boatos de que ele teria se beneficiado pessoalmente com os valores doados.

O defensor, Walmir Lucio Ribeiro, afirma que, desde a decisão de cancelar em definitivo o evento, o que inclusive havia sido combinado com os demais organizadores, teve início a devolução dos valores doados de responsabilidade de Fábio. Contudo, no processo teriam sido detectados alguns comprovantes de transferências fraudados.

"Apenas na noite do dia 28, após a contratação e orientação desta assessoria jurídica, foram publicadas orientações para a solicitação dos valores de tal forma a gerar segurança jurídica, tanto de quem vai receber a devolução quanto do nosso cliente, que fará os pagamentos. Ressalte-se que a adesão foi muito boa, inclusive várias pessoas já enviaram seus comprovantes e dados para transferência. Todos vão receber", garantiu.

Para realizar as transferências, no entanto, é preciso que a pessoa lesada assine um termo "para que aqueles que estão recebendo os valores renunciem ao direito disponível de processar Fábio civilmente, exigindo-lhe perdas e danos. Sem isso, a pessoa receberia a devolução e ainda poderia pleitear uma indenização por danos materiais e até morais”, finalizou o advogado.

Com informações do UOL

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