Padilha diz que vacinação privada, apoiada por Lira, é um "escândalo": "Camarote privado para furar fila"

Ex-ministro da Saúde critica duramente a proposta que visa dar a empresários o direito de comprarem vacinas sem distribuí-las ao SUS: "O dono do banco seria vacinado antes que o professor"

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O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), afirmou nesta quarta-feira (31) que vai pautar a discussão de um projeto que visa dar a empresários o direito de comprar vacinas contra a Covid-19 para vacinar seus funcionários, o que na prática criaria um esquema privado de imunização.

O Congresso Nacional já havia aprovado uma lei que permite à iniciativa privada comprar imunizantes, desde que as doses fossem integralmente doadas ao Sistema Único de Saúde (SUS).

“Tem uma discussão que inicia-se hoje na Câmara que é da possibilidade da iniciativa privada também adquirir vacinas para que o empresário possa vacinar os seus funcionários, para manter a sua empresa e seu negócio de pé, e também extrapolar para o SUS a quantidade, podendo também extrapolar para a família dos seus funcionários uma quantidade, ou podendo doar 100% para o SUS. Não há conflito de interesses", disse o parlamentar.

Ex-ministro da Saúde, o médico e deputado federal Alexandre Padilha (PT-SP) critica duramente a proposta. "Isso é um escândalo, uma tentativa de uma certa elite empresarial que tem valores escravocratas de querer criar o camarote privado das vacinas", disse em entrevista à Fórum.

Segundo o parlamentar, a ideia defendida pelos empresários e que ganhou o apoio de Lira e também do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, "é ainda mais escandalosa" devido ao fato de que a proposta já havia sido barrada no Congresso. "Aprovamos um projeto que até permite a participação do setor privado, mas que só pode fazer a vacinação privada depois que os grupos prioritários do SUS tenham sido atendidos", detalhou.

O ex-ministro alertou ainda que a proposta inclui, também, a isenção fiscal ao empresário que adquirir imunizantes, e que um dono de banco, por exemplo, conseguiria ser vacinado antes que outros grupos prioritários.

"Se for aprovada essa lei, um dono de banco que tem 50 anos, 60 anos, vai poder ser vacinado antes que um idoso que tem 70 anos de idade. Se for aprovada essa lei, o dono do banco vai ser vacinado antes que o professor, que o agente de segurança", alertou.

"É um escândalo patrocinado por uma elite que elegeu o Bolsonaro, que sustenta Bolsonaro, que sustenta o principal responsável pela paralisação do Plano Nacional de Imunização e agora quer criar o camarote privado pra furar a fila de forma absurda e ainda ter isenção fiscal para isso", protestou o petista.