Para que não haja dúvida, por Fernando Cássio, professor da UFABC

Sempre que uma dessas fundações empresariais ou algum de seus braços publicar um textinho maroto criticando a censura nas escolas e adulando o professorado, lembre-se de que nenhum deles vê o menor problema em definir agendas conjuntas com o governo Bolsonaro

Foto: Valter Campanato/Agência Brasil
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Por Fernando Cássio* Enquanto o MEC ataca as universidades federais dilapidando seus orçamentos ao bel-prazer do dirigente da pasta, Consed, Undime e algumas fundações empresariais estão reunidas desde ontem com a Secretaria da Educação Básica para definir “agendas conjuntas” para a educação. Consed e Undime, que representam secretários estaduais e municipais de educação, respectivamente, têm a obrigação de debater com o governo federal. Mas não as fundações. Supostamente, Instituto Ayrton Senna, Fundação Lemann, Instituto Natura e Todos pela Educação estão lá para defender a “agenda da aprendizagem” lançada por estados e municípios. Porém, nesse movimento de apoio difuso ao PNE, cada organização tenta enxertar uma pequena parte de sua própria agenda. Nenhuma delas parece se incomodar com o fato de o próprio Presidente da República expor uma professora em seu Twitter, ou com o fato de o ministro da Educação defender abertamente a filmagem de professores e professoras, levando a situações de perseguição, intimidação e assédio nas escolas brasileiras. Me chamem burro ou intransigente, mas não há diálogo educacional possível com este governo. Se as fundações querem defender a focalização do Fundeb, a implementação da BNCC, a mudança no regime de contratação de professores - agendas que repudio, mas que elas têm o direito de defender - deveriam fazê-lo no legislativo, no CNE, com governadores, com prefeitos. Quem tem obrigação que dialogue com as bestas-feras do Executivo federal. Mas é claro que demandar um pouco de dignidade desse pessoal é pedir demais. A questão aqui sempre foi outra. Não nos esqueçamos que desde antes da posse de Bolsonaro, Mozart Ramos, do Instituto Ayrton Senna, já vinha tentando se cacifar como ministro da Educação. Sempre que uma dessas fundações empresariais ou algum de seus braços (revistas, “startups”, projetos bacanas etc.) publicar um textinho maroto criticando a censura nas escolas e adulando o professorado, lembre-se de que nenhum deles vê o menor problema em definir agendas conjuntas para a educação com o governo Bolsonaro. Quanto aos que defendem uma “frente ampla” pela educação junto com o campo empresarial dito “social-liberal”, permitam-me a indelicadeza de dizer que vocês são muito trouxas. *Fernando Cássio é professor doutor da Universidade Federal do ABC (UFABC)
*Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.