Patrícia Lélis: “Mulher, seja política”

A difícil decisão de ser mulher e escolher estar na política, apesar do universo machista e de todos os obstáculos que precisam ser enfrentados

Escrito en POLÍTICA el
[caption id="attachment_126764" align="aligncenter" width="780"] O maior exemplo que temos é o que fizeram com a nossa presidenta eleita, de forma democrática, Dilma Rousseff. Uma quadrilha de homens não a suportava no poder - Foto: Roberto Stuckert Filho/PR/Fotos Públicas[/caption] Por Patrícia Lélis* Eu não poderia falar sobre outro assunto no dia de hoje que não fosse a participação da mulher na política. Não é novidade que somos minoria em qualquer âmbito da política. Somos menos de 10% na Câmara Federal e, segundo pesquisas recentes realizadas pela UFPR, “mulher não se vê ligada à política”. E o motivo é claro: o machismo existente nesse ambiente é desanimador Esse machismo ultrapassa a barreira da política, chegando até à sociedade e dentro de nossas casas. Não me canso de escutar a seguinte frase: “Patrícia você é tão bonita, estudada, por que se meter na política?”, como se não fosse importante ou assunto sério em que todos deveriam “se meter”. Porém, esse questionamento muda quando um homem quer ingressar na política. Quando um homem escolhe seguir qualquer carreira política que seja é visto como um batalhador, um homem que defende seus ideais e trabalha duro para mudar algo na sociedade. Mas lembre-se: se você for mulher e quiser o mesmo que um homem, será questionada, perseguida, sua vida será vasculhada ponto a ponto, e provavelmente vão tentar desmoralizá-la. Eu posso falar com propriedade (infelizmente) sobre o machismo dentro da política. Alguns homens que se acham donos do poder também passam a acreditar que são donos dos nossos corpos, e que se estamos na política é porque queremos ter algum tipo de relação com eles. Como todos que estão lendo esse texto já devem saber, eu nasci e fui criada em um contexto machista, conservador, cristão e de direita, aonde apenas homens podem ter lugar de fala e algum tipo de poder, e acreditam fielmente que apenas eles podem estar em cargos políticos. Eu sempre gostei de política e isso não é novidade, mas quando ousei mostrar que não estava lá para ser amante de ninguém e, principalmente, de um deputado-pastor, mas, sim, por acreditar que eu poderia mudar algo na sociedade e queria conquistar o meu espaço, fui abusada, agredida, sequestrada e acusada de uma suposta extorsão que nunca cometi e, somente depois, consegui provar isso na Justiça. Muitas pessoas me perguntam se eu me arrependo de ter escolhido a política, e minha primeira e única reposta é que a política me escolheu. E a política escolhe muitas mulheres, todos os dias. Mas quando essa escolha é feita, vem um homem e faz de tudo para barrar. O maior exemplo que temos disso é o que fizeram com a nossa presidenta eleita, de forma democrática, Dilma Rousseff. Uma quadrilha de homens não a suportava no poder, uma quadrilha de homens não entendia como ela não compactuava com os crimes cometidos por Eduardo Cunha e os seguidores. Logo armaram um golpe contra ela e a tiraram do poder. E, sim, minhas caras, é difícil estar em uma política machista, mas somos capazes e fortes o suficiente para lutar contra qualquer tipo de machismo. Ao ser acolhida pelo feminismo, passei a entender que a palavra “resistência”deveria ser meu sobrenome, e que eu não deveria aceitar ser descrita como a “menina do Feliciano”. Eu deveria mostrar ao mundo que meu nome é Patrícia Lélis, mulher, política e que acredita, sim, em um mundo mais justo. Tentaram tanto me tirar da política e mal sabiam eles que só estavam me dando mais força e espaço. Quanto mais tentavam me difamar e incriminar, mais eu crescia, e as pessoas passaram a ver o outro lado de uma história muito mal contada por um partido cristão, que proteje estupradores. Mal sabiam eles que, ao tentar me matar, fizeram nascer uma mulher forte, empoderada e resistente. E tenho certeza que não sou a única nisso. Por isso eu digo: mulheres, sejam políticas, estejam na política. Nunca será um conto de fadas. Teremos que matar um leão por dia, escutaremos de homens que só “pensamos em política”, “que fazemos tudo por popularidade”, “que não somos capazes”. Seremos julgadas por nossa aparência e roupas, escutaremos que somos “frágeis”, mas saibam que se falam isso é porque sabem do seu potencial e não as querem por perto. Este ano de 2018 é eleitoral, é ano em que a política rola solta 24 horas por dia, e eu quero muito poder ver ainda mais mulheres na política. Quero mais mulheres como Dilma Rousseff, Manuela D’Ávila, Carina Vitral, Marianna Dias, Maria do Rosário, Vanessa Grazziotin, Gleisi Hoffmann, entre outras. Que possamos ocupar espaço e mostrar ao mundo que a frase “Bela, recatada e do lar” não nos define. E lembre-se: você pode ser política, esposa, mãe solo, pode querer ser casada, você pode exatamente TUDO. E temos sempre que estar aqui para garantir ainda mais a liberdade escolha para nós. Quanto mais seguirmos juntas e com o pensamento de “nós por nós”, mais nos fortaleceremos. Que nosso dia não seja apenas hoje, mas durante todo o ano *Patrícia Lélis é jornalista