Paulo Marinho: “Eu nunca ouvi Bolsonaro expressar a palavra obrigado a alguém”

Empresário que fez graves denúncias sobre o clã em entrevista neste domingo, apontou também características pessoais do capitão que ele considera curiosas

Foto: Isac Nóbrega/PR
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O empresário Paulo Marinho fez graves de denúncias, neste domingo (17), em entrevista à Folha, de que o clã Bolsonaro foi avisado com antecedência pela Polícia Federal (PF), durante as eleições de 2018, da operação que envolvia o esquema de “rachadinhas” no gabinete de Flávio Bolsonaro. Mas ele fez também diversas observações curiosas de cunho pessoal a respeito do presidente Jair Bolsonaro (Sem Partido-RJ).

Para Marinho, a primeira coisa que ele percebeu é que não se tratava de um mito. “Eu olhava o capitão, com aquele jeito tosco dele, e algumas coisas me chamavam a atenção. Por exemplo: ele era incapaz de agradecer às pessoas. Chegava uma empregada minha, servia a ele um café, um assistente entregava um papel, e ele nunca dizia um obrigado. Eu nunca ouvi, durante o ano e meio em que convivi, ele expressar a palavra obrigado a alguém”.

O empresário comenta ainda: “Um gesto mínimo. Pode não parecer nada, mas demonstra uma faceta da personalidade dele. Será que é uma pessoa apenas de maus hábitos, que não tem educação?”

Além disso, Marinho lembra que “as piadas eram sempre homofóbicas. Os asseclas riam, mas elas não tinham nenhuma graça. E, no final, ele realmente despreza o ser feminino. Tratava as mulheres como um ser inferior”.

“Não tinha uma mulher na campanha dele. Nunca houve. A única, a distância, foi a Joice [Hasselmann, deputada federal], que ficava em São Paulo. Não tinha mulher na campanha dele, só homem. Ele gostava mesmo era de conversar com os seguranças dele. Policiais militares, batedores. Ele se sentia em casa, ficava horas conversando, contando piada”, lembra.

Investigação adiada

De acordo com Paulo Marinho, Flávio Bolsonaro foi avisado por um delegado da Polícia Federal que era simpatizante da candidatura de Jair Bolsonaro da existência da operação que investigava o esquema de “rachadinha” e desvio de dinheiro público em seu gabinete entre o primeiro e o segundo turnos das eleições.

Pior ainda, os policiais teriam segurado a operação, então sigilosa, para que ela não ocorresse no meio do segundo turno, prejudicando assim a candidatura de Bolsonaro.

A coisa não para por aí. O delegado-informante teria aconselhado ainda Flávio a demitir Fabrício Queiroz e a filha dele, que trabalhava no gabinete de deputado federal de Jair Bolsonaro em Brasília. O filho do presidente seguiu o conselho e os dois foram exonerados naquele período —mais precisamente, no dia 15 de outubro de 2018.