Pazuello deve ir fardado à CPI do Genocídio para tentar intimidar Renan Calheiros

"É uma forma de o Pazuello lembrar a todos que é general do Exército e que o Renan é o Renan", disse um aliado do ex-ministro à coluna Radar, da Veja

Foto: Anderson Riedel/PR
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O ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello deve comparecer ao Senado para o seu depoimento à CPI do Genocídio, nesta quarta-feira (18), vestindo uniforme militar do Exército. As informações são da coluna Radar, da Veja, que teria conversado com um aliado do general da ativa.

Apontado como o principal responsável pela crise de oxigênio em Manaus e também pelo agravamento da pandemia do coronavírus no país, Pazuello teria como objetivo, ao aparecer fardado na CPI, intimidar o relator da comissão, o senador Renan Calheiros (MDB-AL).

“É uma forma de o Pazuello lembrar a todos que é general do Exército e que o Renan é o Renan”, teria dito um interlocutor.

Apesar da pompa da farda, Pazuello tentou fugir da CPI ao alegar que estava com suspeita de Covid-19. Mesmo assim, ele teve reunião com o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Onyx Lorenzoni, e com Jair Bolsonaro, dias após usar a desculpa para não comparecer à comissão - sendo que, se de fato há suspeita de Covid, ele deveria ficar ao menos 14 dias em quarentena.

Além disso, o ex-ministro entrou com um pedido de habeas corpus, acatado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), para poder ficar em silêncio durante a oitiva. A justificativa é que ele não pode produzir provas contra si mesmo, já que é investigado pela crise de oxigênio em Manaus pelo Ministério Público Federal.

"O melhor que faria é colaborar"

Em entrevista coletiva após a audiência do ex-ministro das Relações Exteriores Ernesto Araújo à CPI do Genocídio, nesta terça-feira (18), o vice-presidente da comissão, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), e o relator do colegiado, senador Renan Calheiros (MDB-AL), avaliaram que o depoimento do ex-chanceler compromete ainda mais a situação do ex-ministro da Saúde Eduardo Pazeullo, que tem depoimento à CPI marcado para esta quarta-feira (19).

Segundo Randolfe, o depoimento de Araújo deixou claro que houve “omissão criminosa na crise de oxigênio em Manaus”. O senador frisou o ponto da oitiva do ex-chanceler em que ele confirma que o oxigênio enviado pela Venezuela ao Amazonas foi uma doação, sem qualquer articulação do governo brasileiro e nem do Itamaraty.

“O governo brasileiro não só não articulou como não agradeceu [à Venezuela]. Isso vocês acompanharam. Temos o documento oficial de que essa quantidade de oxigênio foi doada”, disse. “Comprometeu muito o presidente [Jair Bolsonaro e o senhor Pazuello”, completou, adicionando ainda que ele enxerga um “movimento de abandono” do governo com relação ao ex-ministro da Saúde. “O melhor que ele faria é colaborar”, pontuou.

O relator Renan Calheiros foi na mesma linha: “Ele sistematicamente enfatizou que todas as iniciativas da política externa aconteceram em função de decisões do Ministério da Saúde. Ao dizer isso, ele transfere o ônus da responsabilidade ao ministro Pazuello (…) Na medida que representantes do governo vêm aqui e transferem a responsabilidade para ele, isso deveria estimulá-lo a colaborar mais”.