Presidente da OAB diz que houve "risco de ruptura democrática" no ano passado

Sem especificar os fatos, Felipe Santa Cruz deu a entender, em entrevista ao Roda Viva, que a eleição de Jair Bolsonaro foi permeada por um risco de "ruptura democrática" e "pressões às instituições"; autor de uma interpelação contra o presidente no STF por conta de uma fala contra seu pai, morto na ditadura, Santa Cruz disparou: "Nós carregamos o orgulho de ter resistido à ditadura"

Reprodução/TV Cultura
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Um dos alvos preferidos nas últimas semanas das milícias bolsonaristas nas redes sociais, o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz, afirmou em entrevista ao programa 'Roda Viva', da TV Cultura, na noite desta segunda-feira (5), que "há evidências de que o Brasil sofreu riscos de ruptura democrática" nos últimos anos. "A história vai mostrar. Temos informações de pressões que as instituições viveram nos últimos anos. Elas foram, sim, muito pressionadas", disse, sem especificar quais fatos o levaram a essa interpretação. A jornalista Vera Magalhães, então, insistiu para que Santa Cruz desse exemplos de situações em que a democracia esteve sob risco no país. O advogado, por sua vez, citou exemplos que remetem à eleição de Jair Bolsonaro. "Matéria da revista Época da semana passada fala sobre o caso dos 300 mil soldados". O presidente da OAB se referiu, em sua resposta, ao trecho do livro  “Os Onze”, noticiado pela revista Época, que mostra que o Supremo Tribunal Federal (STF) teria temido por um golpe militar caso Bolsonaro não fosse vitorioso nas urnas. De acordo com o livro, teria chegado até a Corte a informação que o então candidato do PSL teria o apoio de 300 mil homens das Forças Armadas que estariam prontos para agir caso o resultado eleitoral não fosse satisfatório. Sem entrar em muitos detalhes, Santa Cruz ainda disparou: "Os flertes com o autoritarismo não vêm de hoje. Ainda vai se escrever muito sobre isso".

Em defesa da memória 

Todo o primeiro bloco do programa Roda Viva desta segunda-feira (5) foi dedicado ao debate sobre a fala de Jair Bolsonaro mencionando o pai de Felipe, Fernando Santa Cruz, que causou polêmica na semana passada. O presidente decidiu atacar o advogado dizendo saber como Fernando Santa Cruz, pai do advogado, foi morto durante a ditadura militar, em uma declaração com tom pejorativo e que minimizou o sofrimento das famílias de vítimas do aparelho repressor do Estado durante os anos de chumbo. Diante da declaração, Felipe Santa Cruz interpelou Bolsonaro no Supremo Tribunal Federal (STF), que deu prazo de 15 dias para que o presidente explique o que sabe sobre a morte do pai do advogado. No Roda Viva, Santa Cruz disse que não espera que Bolsonaro traga novas revelações sobre a morte de seu pai, mas que acionou o STF contra o presidente como um gesto "em defesa da memória". "Não acredito que vá dizer nada de novo. Não cumprirá aquilo que diz, mas ele como mandatário desse país, tem obrigações a esclarecer nesse caso (...)  É um gesto de defesa da memória do meu pai. O que aconteceu depois da declaração foi uma das coisas mais cruéis que ja vi. Linchamento do menino que morreu aos 27 anos de idade. Defender a memória do meu pai é uma obrigação.E se ele [Bolsonaro] não responder, vamos estudar as medidas criminais contra o cidadão Bolsonaro", afirmou.