Preso e torturado na ditadura, Ivan Seixas dispara contra Bolsonaro: "Marginal da política"

Para o ativista, que chegou a ver seu pai morrer em uma sessão de tortura comandada pelo ídolo de Bolsonaro, a orientação do presidente para que se comemore o aniversário do golpe de 1964 apenas "prova, mais uma vez, que ele é um desequilibrado"

Foto: Núcleo de Preservação da Memória Política
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A orientação de Jair Bolsonaro para que os militares comemorem, no próximo dia 31, o aniversário do golpe de 1964 que instaurou ditadura civil-militar no Brasil que durou até 1985 gerou uma onda de repúdio em diversos segmentos sociais. Enquanto na Argentina e no Chile as datas que marcam as ditaduras locais são utilizadas para rememorar os mortos e desaparecidos, e mesmo na Alemanha, em que defender o nazismo é um crime, no Brasil, Jair Bolsonaro segue com seu saudosismo dos anos de chumbo e, agora, como presidente, a sua defesa da ditadura se torna ainda mais grave. Neste sentido, procuradores do Ministério Público Federal (MPF) repudiaram com veemência a declaração do presidente e até mesmo a Defensoria Pública da União (DPU) ingressou com uma ação civil pública na Justiça Federal com o intuito de impedir comemorações do aniversário do golpe Nas redes sociais, a hashtag #DitaduraNuncaMais dominou as discussões durante boa parte desta terça-feira (26) e inúmeras personalidades, como o escritor Paulo Coelho e o ator José de Abreu relembraram, em seus perfis, as prisões e torturas a que foram submetidos no período. Para ampliar o debate sobre o assunto, Fórum entrevistou o ativista político Ivan Seixas. Ele foi preso pela máquina repressora da ditadura em 1971, aos 16 anos, e foi torturado junto com toda a família. Seu pai, Joaquim Alencar Seixas, morreu após uma sessão de tortura sob o comando de Carlos Alberto Brilhante Ustra, militar tido como "ídolo" pelo presidente Jair Bolsonaro. Para Ivan, Bolsonaro chega a ser pior que os próprios militares que compõem o seu governo que, para ele, já têm um entendimento diferente com relação a esse saudosismo dos anos de chumbo do presidente. O ativista classificou o capitão da reserva como "um marginal da política". "Essa orientação [de comemorar o golpe de 1964] só prova que ele [Bolsonaro] é um desequilibrado. É uma pessoa que não dá para ser levada a sério, a não ser na hora de internar num hospício", disparou. Para o ativista, o fato de o presidente ser um "desequilibrado" e não poder ser levado a sério, no entanto, não anula o perigo que ele representa ao proferir orientações como essa. "É o tipo de pessoa que se for empoderada vai causar muitos prejuízos. São pessoas [Bolsonaro e seu núcleo de governo] que não têm o menor senso. Ele fala em matar, torturar, fuzilar e, ao mesmo tempo, consegue ser acusado de corrupto, subvertendo uma imagem que os militares conseguiram construir de que não praticam corrupção. Essas coisas são muito complicadas. Neste momento, não dá para deixar as coisas soltas e ver a política virar esse absurdo", afirmou Seixas. E complementa: "Ele [Bolsonaro] aposta nessa propaganda fascista. Que propostas ele tem para o país? Pra ele, a única coisa que presta é fazer propaganda das armas porque foi financiado pela indústria das armas. Fala barbaridades e acontecem barbaridades. Ele é um perigo e não pode ter o poder descontrolado, se não vai cometer violência contra a população, pois é essa a proposta dele". Com relação à parcela da população que endossa a defesa da ditadura militar encampada por Bolsonaro e insiste em afirmar que o que houve em 1964 foi uma "revolução", e não um golpe, Seixas ironizou: "É uma insanidade. Uma pessoa pode até falar que não foi golpe. O que não se pode é defender tortura, isso é crime. Agora, falar que não foi golpe é a mesma coisa que dizer que a Terra é plana".