Procuradores da Lava Jato sabiam que Erika Marena, da PF, fraudou depoimento de testemunha

Em diálogo, Dallagnol admite que a delegada “lavrou depoimento como se tivesse ouvido o cara, com escrivão e tudo, quando não ouviu nada”

Delegada Erika Marena - Foto: Arquivo
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Uma das mais reveladoras conversas vazadas pela Operação Spoofing, divulgada nesta segunda-feira (22), mostra que os procuradores da Operação Lava Jato sabiam que a delegada Erika Marena, da Polícia Federal, lavrou o termo de depoimento de uma testemunha que sequer foi ouvida.

O diálogo, que aconteceu em 26 de janeiro 2016, foi enviado pela defesa do ex-presidente Lula ao Supremo Tribunal Federal (STF).

Em uma das mensagens, Deltan Dallagnol conversa com outro procurador, Orlando Martello Junior. "Como expõe a Erika: ela entendeu que era pedido nosso e lavrou termo de depoimento como se tivesse ouvido o cara, com escrivão e tudo, quando não ouviu nada… DPFs [delegado da polícia federal] são facilmente expostos a problemas administrativos".

Martello responde mostrando que, para ele, o maior problema não era a falsificação em si, mas sim o fato de que tal situação poderia levar ao descrédito da Lava Jato, já que Marena era uma delegada ligada à força-tarefa de Curitiba.

“Se deixarmos barato vai banalizar (…) vamos combinar com ela de ela nos provocar diante das notícias do jornal para reinquiri-lo ou algo parecido. Podemos conversar com ela e ver qual estratégia prefere. Talvez até, diante da notícia, reinquiri-lo de tudo. Se não fizermos algo, cairemos em descrédito”, argumentou o procurador.

Em 2019, o então ministro da Justiça, Sérgio Moro, nomeou Marena como chefe do Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional da Secretaria Nacional de Justiça. Ela, no entanto, terminou exonerada do cargo em junho de 2020, dois meses depois que o ex-juiz deixou o Ministério do governo de Jair Bolsonaro.

Matéria atualizada no dia 23/02/2021, às 6h29. Diferentemente do que havia sido noticiado, não há como comprovar que o depoimento fraudado foi do ex-reitor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Luiz Carlos Cancellier de Olivo. Com isso, houve a mudança de título e contexto da reportagem.