Promotora diz que empresário que ameaçou matar Lula "se comoveu pelo momento político do país"

Promotora da comarca de Artur Nogueira, interior de SP, Maria Paula Machado de Campos diz que direito penal não pode ser usado para intimar, calar ou censurar “o indivíduo na sua livre manifestação de pensamento”

José Sabatini, que fez ameaças com arma ao ex-presidente Lula (Montagem)
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Maria Paula Machado de Campos, promotora da comarca de Artur Nogueira, no interior de São Paulo, classificou como "livre manifestação do pensamento" o vídeo em que o empresário José Sabatini ameaça matar o ex-presidente Lula mostrando um revólver.

Em sua manifestação sobre o caso, Maria Paula diz que a ameaça do empresário se deu no contexto brasileiro de "intensa polarização política da sociedade", "com a multiplicação de notícias veiculadas pela mídia diariamente, sobre todo tipo de tema", e que não é de se estranhar que Sabatini tenha "se deixado comover pelo atual momento político do país", o que, segundo ela, não faz dele um criminoso.

Segundo a promotora, "os crimes de calúnia e difamação são punidos a título de dolo, contudo, não há nos autos nenhum elemento que nos permita concluir que o querelado tinha consciência de que a imputação feita ao querelante era falsa".

Segundo informações da coluna Painel, na edição desta quinta-feira (29) da Folha de S.Paulo, Maria Paula segue dizendo ainda que o direito penal não pode ser usado para intimar, calar ou censurar “o indivíduo na sua livre manifestação de pensamento”.

Bolsonarista
No vídeo divulgado em março deste ano, o empresário, apoiador radical de Jair Bolsonaro, usa camisa e bandeira do Brasil e uma arma em punho. Sabatini usa fake news sobre “roubo de R$ 84 milhões” do Fundo de Amparo do Trabalhador (FAT) para ameaçar Lula.

Ele xinga o ex-presidente e diz: “Não tenta transformar o meu país numa Venezuela. Eu vou derramar meu sangue, mas vou lutar por meu país. Está entendendo o recado? A minha parte eu vou fazer. […] Você vai ter problema, hein cara”, diz Sabatini, mostrando a arma em sua mão.

Advogados de Lula entraram com ação pedindo o pagamento de R$ 50 mil referentes a danos morais para efeitos pedagógicos.

Sabatini já havia sido investigado em 2010 pelo Ministério Público de São Paulo (MP-SP) no âmbito da Lei Maria da Penha, após a agredir a ex-esposa.

A promotoria, no entanto, arquivou o inquérito seis meses depois alegando “versões contraditórias entre as partes”, mesmo com um laudo do Instituto Médico Legal (IML) comprovando que a mulher foi agredida.