Randolfe após depoimento de Araújo: "Relações Exteriores eram um apêndice do gabinete da Covid"

Tanto o vice-presidente como o relator da CPI, Renan Calheiros, avaliaram que o depoimento do ex-chanceler compromete ainda mais Eduardo Pazuello: "O melhor que ele faria é colaborar"

Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado
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Em entrevista coletiva após a audiência do ex-ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, à CPI do Genocídio, nesta terça-feira (18), o vice-presidente da comissão, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), e o relator do colegiado, senador Renan Calheiros (MDB-AL), avaliaram que o depoimento do ex-chanceler compromete ainda mais a situação do ex-ministro da Saúde, Eduardo Pazeullo, que tem depoimento à CPI marcado para esta quarta-feira (19).

Segundo Randolfe, o depoimento de Araújo deixou claro que houve "omissão criminosa na crise de oxigênio em Manaus". O senador frisou o ponto da oitiva do ex-chanceler em que ele confirma que o oxigênio enviado pela Venezuela ao Amazonas foi uma doação, sem qualquer articulação do governo brasileiro e nem do Itamaraty.

"O governo brasileiro não só não articulou como não agradeceu [à Venezuela]. Isso vocês acompanharam. Temos o documento oficial de que essa quantidade de oxigênio foi doada", disse. "Comprometeu muito o presidente [Jair Bolsonaro e o senhor Pazuello", completou, adicionando ainda que ele enxerga um "movimento de abandono" do governo com relação ao ex-ministro da Saúde. "O melhor que ele faria é colaborar", pontuou.

O relator Renan Calheiros foi na mesma linha: "Ele sistematicamente enfatizou que todas as iniciativas da política externa aconteceram em função de decisões do Ministério da Saúde. Ao dizer isso, ele transfere o ônus da responsabilidade ao ministro Pazuello (...) Na medida que representantes do governo vem aqui e transferem a responsabilidade para ele, isso deveria estimulá-lo a colaborar mais".

Randolfe também chamou a atenção para a viagem liderada por Araújo a Israel em março deste ano, cujo objetivo seria conhecer o "spray milagroso", conforme definiu Jair Bolsonaro, que estaria sendo testado pelo país para o tratamento da Covid-19. O relator, além de escancarar o fato de que a viagem custou R$500 mil aos cofres públicos e não trouxe nada de concreto, fez relação direta com a omissão do Ministério da Saúde e do Ministério das Relações Exteriores diante da crise de oxigênio no Amazonas.

"Ficou esclarecido que essa tal viagem ocorreu sob os efeitos mais obscuros. Não tinha articulação do Ministério da Saúde. Um requerimento oficial do Itamaraty diz que as tratativas para essa viagem ocorreram desde maio de 2020.
Há um conjunto de personagens que nada tinham a ver com vacina, nem com remédio para enfrentamento à Covid (...) Uma viagem que custa 500 mil reais, usa aeronave da Força Aérea Brasileira e não tem resultado prático algum? Essa aeronave poderia ter ido à Venezuela para buscar oxigênio. Não se cuidou quando os amazonenses estavam com falta de oxigênio", declarou.

Em outro momento da coletiva, Randolfe disse que o depoimento de Araújo confirmou aquilo que havia dito o ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, sobre a existência de um gabinete paralelo que orientava o presidente Jair Bolsonaro com relação ao enfrentamento à pandemia em detrimento dos protocolos estabelecidos pelo próprio Ministério da Saúde. "Ficou evidente que o Ministério das Relações Exteriores se tornou uma espécie de apêndice do 'gabinete da doença', que atuava negando a gravidade da pandemia. Para mim, o depoimento de Ernesto da conta da existência desse gabinete paralelo do comando da doença, e o mais grave, a omissão criminosa na crise de oxigênio de Manaus", certificou.