Raul Jungmann, ex-ministro da Defesa de Temer, diz que Lula não terá problemas com Forças Armadas

Segundo Jungmann, houve grande investimento nas Forças Armadas nos governos Lula e, por esse e outros motivos, militares não criariam problemas caso petista fosse eleito em 2022; "Tem que reconhecer"

Raul Jungmann e militares (Foto: Vladimir Platonow/Agência Brasil)
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Em entrevista à BBC News Brasil nesta quarta-feira (17), o ex-ministro da Defesa e da Segurança Pública do governo Temer, Raul Jungmann, afirmou que Lula não terá problemas com as Forças Armadas caso seja eleito em 2022.

O político tem bom transito e conhece bem os militares. Para ele, nem Lula ou qualquer outro que venha a vencer a próxima eleição presidencial "terão impedimento ou dificuldade para governar" por parte das Forças Armadas.

Sobre a possibilidade de Lula ganhar especificamente, Jungmann afirma que houve grandes investimentos nas Forças Armadas ao longo dos governos do petista e que isso precisa ser reconhecido.

"Dentro das Forças Armadas existem, sim, aqueles que são antipetistas, como há aqueles que também tem a outra opção e são petistas, socialistas ou liberais, ou conservadores. Enfim, isso está tudo representado lá dentro. Mas, eu posso dizer que hoje é consolidado o sentimento, até porque já viveram o governo Lula anteriormente. O governo do PT durou 14 anos, infelizmente terminou como terminou, mas a verdade é que é no governo Lula que acontecem duas coisas importantes para as Forças Armadas. Em primeiro lugar, foi a edição de uma política e de uma estratégica nacional de Defesa", pontuou o ex-ministro.

"E, além disso, é reconhecido que é desse período, que foi um período economicamente muito mais folgado, que houve um grande investimento na modernização e atualização das nossas Forças. Então, eu digo isso como alguém que fez oposição ao governo do PT durante 14 anos, mas tem que reconhecer as coisas que de fato aconteceram e é isso que a gente tem a narrar", completou.

A declaração de Jungmann vem na esteira de inúmeras aspirações golpistas de militares, principalmente da reserva, contra a possibilidade de um êxito eleitoral do ex-presidente petista.

Em nota publicada no site do Clube Militar no último dia 8, o general Eduardo José Barbosa, que substituiu Hamilton Mourão (PRTB), atual vice de Jair Bolsonaro, na presidência da instituição no Rio de Janeiro, criticou a decisão do ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), que anulou as condenações Lula e devolveu ao petista seus diretos políticos.

"Ou alguém acredita que algum desses processos chegará a transitar em julgado (depois de centenas de recursos) com o 'paciente' vivo? Lugar de ladrão é na cadeia…. mas não no Brasil onde aqueles que julgam são alinhados políticos daqueles que são julgados", escreveu o general.

Além disso, o general da reserva Luiz Eduardo Rocha Paiva chegou a falar sobre "ruptura" ao comentar a vitória judicial de Lula. “O STF feriu de morte o equilíbrio dos Poderes, um dos pilares do regime democrático e da paz política e social. A continuar esse rumo, chegaremos ao ponto de ruptura institucional e, nessa hora, as Forças Armadas (FA) serão chamadas pelos próprios Poderes da União, como reza a Constituição", declarou.

Jungmann, no entanto, minimiza esse tipo de fala. "Militares que estão na reserva usualmente têm uma visão em boa medida da Guerra Fria, do combate ao comunismo, da subversão e tudo mais, da política de segurança nacional e tal. São homens que deram e contribuíram pra nação e para pátria, mas permanecem ainda imersos em um clima que já não existe mais, que já não faz mais sentido", pontuou.

"De um modo geral, a reserva é assim. Ela fica numa posição, digamos assim, pré-queda do Muro de Berlim e às mudanças todas que o mundo teve, inclusive o próprio processo de redemocratização. Na reserva é comum, por exemplo, que não se aceite que as Forças Armadas não tenham um papel moderador, não tenham mais o papel de tutela e tudo mais que tinham no passado. Então eu acho que isso é a expressão de um pensamento que já não é o pensamento da Forças Armadas", complementou o ex-ministro.

Confira a íntegra da entrevista aqui.