Responsáveis por movimentos pró-democracia rejeitam participação de Sergio Moro

Em artigo, ex-ministro volta a atacar Jair Bolsonaro e chama presidente de "populista com lampejos autoritários"

O ministro Sérgio Moro - Foto: Reprodução/YouTube
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Apesar de seus posicionamentos contra o governo de Jair Bolsonaro, o ex-ministro Sergio Moro ainda não tem espaço para participar dos movimentos pró-democracia que têm ganhado força nos últimos dias. Articuladores apontam um possível "constrangimento" se Moro se juntasse aos grupos, destacando que há diferenças irreconciliáveis com o ex-juiz.

"Entrarão todos, menos os fascistas. Moro, fora. É o limite", diz o jornalista Juca Kfouri, um dos articuladores do movimento "Juntos pela Democracia", em entrevista ao Painel, da Folha de S.Paulo.

No "Basta", que reúne advogados e juristas, e opinião é similar. "Natural que exista constrangimento com a adesão de algumas pessoas. Estas mesmas figuras são responsáveis diretas por parte importante das mazelas do país", diz o advogado Marco Aurélio Carvalho, um dos articuladores do movimento.

"Não se pode esquecer que o bolsonarismo é filho legítimo da Lava Jato e do golpe de 2016", completa.

Já Eduardo Moreira, que a partir da constatação de que 70% da população não apoia Bolsonaro iniciou a mobilização online #Somos70porcento, disse à Folha de S. Paulo que não se trata exatamente de um movimento, mas um cálculo matemático sobre aqueles que rejeitam o atual governo.

À Fórum, Moreira deixou claro que, mesmo que Moro hoje se coloque contra Bolsonaro, pensa diametralmente diferente do ex-ministro da Justiça.

"Contra o populismo"

Em artigo publicado nesta quarta-feira (3) no jornal O Globo, o ex-ministro volta a atacar o presidente. No texto, Moro acusa o governo Bolsonaro de praticar o "populismo com lampejos autoritários" e reforça a importância da autonomia dos órgãos policiais.

O ex-juiz foi responsável por denunciar uma possível interferência política de Bolsonaro na Polícia Federal, o que gerou ao presidente uma investigação no Supremo Tribunal Federal (STF).

"Dentro do modelo do estado de direito o governo é de leis, não do arbítrio do governante ou de interesses especiais", diz o texto. "Os órgãos do Estado, afinal, têm sua atuação regrada pela lei e por finalidade atender o bem-estar comum e não cumprir os caprichos e arbítrios do governante do momento. Políticos populistas tendem a ignorar tal distinção", continua.

"Não é o caso de falar em totalitarismo ou mesmo em ditadura, no presente momento, mas o populismo, com lampejos autoritários, está escancarado", diz outro trecho.

Em seguida, Moro diz que "o quadro é muito ruim" e que governo manipula a opinião pública, "estimulando ódio e divisão entre a população".

"Para tanto, políticas públicas racionais e previsíveis são imperativas. Crises diárias, ameaças autoritárias, instabilidade, ódio, divisões, nada disso é positivo", afirma.

*Matéria atualizada às 18h08 em 03/06/2020 para correção de informação