Sâmia questiona, via ofício, viagem de Damares a SP: "Visitou quantas crianças com Covid?"

Deputada entrou com requerimento de informações para saber custos e motivações da viagem da ministra, que foi a São Paulo visitar criança que teve mal súbito, em aparente campanha antivacina, já que relação com o imunizante foi descartada

Sâmia Bomfim (Foto: Najara Araújo/Câmara dos Deputado) oficiou Damares Alves (Foto: Palácio do Planalto) a responder perguntas sobre viagem a SP
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A deputada federal Sâmia Bomfim (PSOL-SP) protocolou junto ao Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos, na noite desta sexta-feira (21), um requerimento de informações com uma série de questionamentos à ministra Damares Alves, por conta da viagem que ela fez a São Paulo na quinta-feira (20) para visitar uma menina de 10 anos que teve uma parada cardíaca.

O caso ganhou repercussão pois, a princípio, especulou-se que a criança tivesse apresentado o mal súbito como efeito adverso da vacina contra a Covid-19, já que a parada cardíaca aconteceu horas após ela receber a dose. O Centro de Vigilância Epidemiológica de São Paulo, órgão ligado à secretaria estadual da Saúde de SP e composto por inúmeros especialistas, no entanto, concluiu que a parada cardíaca não teve nenhuma relação com o imunizante. A menina sofre de uma condição rara que era desconhecida de seus pais.

Damares, contudo, foi à cidade de Botucatu (SP), com o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, mesmo após o laudo de especialistas descartar a relação do mal súbito com a vacina. Ao divulgar a visita, Damares citou o imunizante contra a Covid, o que soou como uma campanha antivacina.

No requerimento de informações, Sâmia Bomfim faz uma série de questionamentos, entre eles o custo total da viagem e se a ida a São Paulo "tem relação com uma desconfiança quanto à segurança e eficácia da vacina em crianças de até 11 anos".

A deputada pergunta também, entre outras questões, "quais ações empreendidas pelo Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos para acolhimento e assistência às famílias de crianças de até 11 anos que vieram a óbito em decorrência da Covid-19" e se a ministra, em algum momento ao longo da pandemia, "realizou oficialmente visitas a crianças internadas em decorrência da Covid-19 e à seus familiares".

O Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos tem até 30 dias para responder aos questionamentos.

Confira a íntegra do requerimento

Ministério da Saúde também conclui: mal súbito não teve relação com vacina

Uma equipe de 10 especialistas do Ministério da Saúde confirmou o que a Secretaria de Saúde de São Paulo já havia atestado sobre o caso da menina de 10 anos, moradora de Lençóis Paulistas (SP), que sofreu um mal súbito horas após receber a aplicação da vacina contra a Covid-19: não há qualquer relação entre a parada cardíaca que ocorreu com a criança e o imunizante aplicado nela.

De acordo com a análise final da comissão do Ministério da Saúde, a menina sofre de uma condição rara, a Síndrome de Wolff-Parkinson-White, que segundo a página do Hospital Israelita Albert Einstein é uma “síndrome em que uma via elétrica extra no coração causa um batimento cardíaco acelerado”. A família da paciente não sabia deste problema de saúde.

Ainda na quinta-feira (20) a Secretaria de Saúde de São Paulo já havia alertado para o fato de que os dois eventos, a aplicação da vacina e o problema cardíaca, não mantinham qualquer relação, sendo a criança portadora de um problema de saúde que coincidentemente provocou uma “instabilidade hemodinâmica” no dia em que ela foi imunizada.

Alarde antivacina dos bolsonaristas

O caso da menina de Lençóis Paulistas (SP) que sofreu uma parada cardíaca horas depois de receber uma dose de um imunizante contra a Covid-19 foi alardeado e turbinado nas redes sociais pelas hostes bolsonaristas antivacina, que desde o primeiro momento após o surgimento da notícia propagaram a informação falsa de que o mal súbito teria sido resultado da imunização.

Membros do governo federal e até o presidente Jair Bolsonaro se apressaram em relacionar os dois fatos para criar medo na população e tirar credibilidade das vacinas, em sintonia com a política negacionista e anticiência adotada pela gestão do presidente extremista desde o início da pandemia.

Palácio do Planalto chegou a enviar dois ministros de Estado, Damares Alves, da Família e Direitos Humanos, e Marcelo Queiroga, da Saúde, para visitar a criança e sua família, num hospital do município de Botucatu, no interior paulista, alimentando a sanha dos grupos bolsonaristas radicais que espalham grandes volumes de fake news nas redes e aplicativos de mensagem.