"Temos de tratar Napoleão como Napoleão", diz Gilmar Mendes sobre Bolsonaro

Ministro do STF ironizou discurso recorrente de Bolsonaro junto a apoiadores sobre fraude nas eleições. "Essa gente dialoga um pouco com aqueles que dizem que o homem não foi à Lua, que a Terra é plana e que a cloroquina salva"

Jair Bolsonaro levanta leite condensado dado por apoiadores em Cascavel, no Paraná (Foto: Alan Santos/PR)
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De férias em Portugal, o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF) ironizou a recorrente tentativa de Jair Bolsonaro (Sem partido) de acusar o sistema eleitoral brasileiro de fraude dizendo que "temos de tratar Napoleão como Napoleão", em referência ao líder militar e imperador francês que inspirou o complexo de inferioridade compensado com um comportamento agressivo e que virou clichê de loucura.

"Isso faz parte de um discurso para manter sua grei unida. Temos de tratar Napoleão como Napoleão. Tem suspeitas de fraude? Traga as provas e vamos discutir isso publicamente. A própria vitória dele, que não era do establishment, é a prova inequívoca de que isso não existe. Nessa discussão sobre fraude em urnas eletrônicas tem um tipo de mensagem sub-reptícia que não devemos aceitar. Essa gente dialoga um pouco com aqueles que dizem que o homem não foi à Lua, que a Terra é plana e que a cloroquina salva", disse Mendes em entrevista à Veja.

Mendes ainda ironizou a relação de Bolsonaro com o Centrão, dizendo que o presidente se "conscientizou" e desistiu de "persuadir as instituições pela via dos ataques ou do constrangimento físico" após faltar votos no Congresso.

"O próprio governo e seus apoiadores se conscientizaram de que tentar persuadir as instituições pela via dos ataques ou do constrangimento físico era uma metodologia que não se coadunava com a democracia. No início, o presidente Bolsonaro também dizia que não iria ceder ao presidencialismo de coalizão, mas começou a faltar votos no Congresso, e o governo foi buscar o Centrão para ter algum tipo de aliança com um mínimo de programa de governo", afirmou.

Sobre a condução da pandemia, o ministro disse que "se não é um genocídio, é uma mortandade em grande escala que poderíamos ter evitado".