Toma lá, dá cá: Centrão já recebeu 325 cargos de Bolsonaro

A relação, no entanto, é conflituosa. Governo tem dificuldades para nomear nomes do grupo que não sejam citados em delações ou envolvidos em escândalos de corrupção

Foto: Marcos Correa/PR
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O presidente Jair Bolsonaro (Sem Partido-RJ) já entregou 325 cargos ao grupo do Congresso denominado centrão. Vários dos políticos do grupo são envolvidos na operação Lava-Jato e no chamado mensalão. Um dos principais articuladores dessa aproximação, o deputado Arthur Lira (PP-AL) foi denunciado nesta sexta-feira (5) à Justiça por corrupção passiva.

De acordo com dados obtidos pelo jornal O Globo, desde julho do ano passado, parlamentares já pediram a nomeação para mais de 700 cargos federais — em 325 deles, ou 45% dos casos, o pleito foi atendido. Cerca de 200 foram rejeitados pelo governo, e o restante ainda aguarda aprovação.

Ao contrário do que acontecia no ano passado, as nomeações do governo passaram a ser para cargos maiores, com orçamentos mais robustos. A relação, no entanto, é conflituosa. Nos últimos dois meses, o governo recebeu 88 pedidos de nomeações de parlamentares, dos quais só 11 deles foram atendidos após análise do Palácio do Planalto.

O Banco do Nordeste (BNB), por exemplo, teve um presidente que durou um dia nesta semana. O PL tentou emplacar três nomes no banco desde o início do governo. Um deles era o analista do Banco Central Flávio Cals Dolabella, acusado por um delator da Odebrecht de receber propina para vazar documentos sigilosos.

O governo acabou nomeando Alexandre Borges Cabral, indicado do PTB. Houve reclamação do ex-deputado Valdemar Costa Neto, condenado no mensalão, que controla o PL. O “Estado de S. Paulo” revelou em seguida que o Tribunal de Contas da União (TCU) investiga suspeitas de irregularidades em contratações quando Cabral presidiu a Casa da Moeda. O governo, então, decidiu pela exoneração um dia após a nomeação.

A indicação para comandos de ministérios, por enquanto, estão fora de jogo, mas o centrão criou uma espécie de “consórcio” entre PL, PP, PSD e Republicanos. O grupo define entre si as indicações para cargos — que podem ser acatadas ou não, como aconteceu no Banco do Nordeste.

O grupo já conseguiu controle sobre órgãos importantes. O PP de Arthur Lira emplacou no comando do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), que tem orçamento de R$ 54 bilhões, Marcelo Lopes da Ponte, chefe de gabinete do senador Ciro Nogueira (PP-PI), outro réu na Lava-Jato. O partido também emplacou Fernando Leão na diretoria-geral do Departamento Nacional de Obras contra as Secas (Dnocs), posto cobiçado historicamente por políticos do Nordeste.