Uerj repudia declaração elitista de Paulo Guedes: "preconceito e despreparo"

"A Uerj se orgulha de ter em seu corpo discente filhos de porteiros, de empregadas domésticas, de trabalhadores em geral, que vêm contribuindo para elevar os padrões de excelência de nossa Universidade", diz nota publicada pelo reitor Ricardo Lodi

Paulo Guedes - Foto: Isac Nóbrega/PR
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A Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), uma das primeiras universidades públicas a aderir ao sistema de cotas raciais, divulgou uma nota nesta sexta-feira (30) repudiando a declaração preconceituosa do ministro da Economia, Paulo Guedes, sobre o acesso dos "filhos de porteiro" ao ensino superior.

"A Uerj vem repudiar a declaração do ministro da Economia, Paulo Guedes, relativa ao acesso dos filhos de porteiro ao ensino superior. Mostra todo o preconceito e elitismo do ministro e revela o seu despreparo para ocupar as relevantes funções que lhe foram confiadas", diz nota assinada pelo reitor da instituição, o jurista Ricardo Lodi Ribeiro.

Lodi afirma que "a Uerj se orgulha de ter em seu corpo discente filhos de porteiros, de empregadas domésticas, de trabalhadores em geral, que vêm contribuindo para elevar os padrões de excelência de nossa Universidade em todos os rankings nacionais e internacionais".

"Uma Universidade referenciada socialmente que prepara os filhos da classe trabalhadora para um Brasil mais justo, mais plural e em que a ciência e a tecnologia sejam levadas a sério", completa.

Na fatídica reunião do Conselho de Saúde Suplementar (Consu) de terça-feira, na qual o ministro não sabia que estava sendo gravada, Guedes destilou todo o seu elitismo ao comentar sobre o Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior (Fies).

"Teve uma bolsa do governo, o Fies, uma bolsa pra todo mundo. […] O porteiro do meu prédio virou pra mim e falou: 'Eu tô muito preocupado'. Eu disse: 'O que houve?' Ele disse: 'Meu filho passou na universidade'. Eu: 'Ué, mas você não tá feliz por quê? Ele: '[Meu filho] tirou 0 na prova. Tirou 0 em todas as provas. Recebi um negócio financiado escrito 'parabéns seu filho tirou…' Aí tinha um espaço pra preencher… e lá 0. Seu filho tirou 0 e acaba de se ingressar na nossa escola. Estamos muito felizes", disse durante a reunião.

"Deram bolsa para quem não tinha nenhuma capacidade. Botaram todo mundo… Exageraram. Foram de um extremo ao outro", completou.

Ex-ministros da Educação que integraram os governos de Lula e Dilma protestaram contra a declaração de Guedes. "Saúde e educação para poucos, esse é o seu ideal de mundo. Aos porteiros e seus filhos: vida longa e a porta da universidade aberta”, escreveu Fernando Haddad em seu Twitter. "Que honra, temos eu, Haddad, Paim, Mercadante de, comandados por Lula, sermos responsáveis por este sacrilégio", disse Tarso Genro. Aloizio Mercadante também publicou artigo rebatendo a fala do titular da Economia de Bolsonaro.

O ex-presidente Lula, por sua vez, compartilhou uma postagem do publicitário Ricardo Silvestre, filho de porteiro que acessou a universidade graças ao Fies. “Felizmente um dos filhos de porteiro e empregada doméstica sou eu, que pude estudar pela existência dos programas sociais do governo”, escreveu Silveira, ao que o ex-presidente afirmou: “Por mais jovens como Ricardo e menos homens como Paulos Guedes”.