Universidades e institutos do RJ confrontam Weintraub e pedem adiamento do Enem

"É nosso compromisso que nenhum estudante tenha o seu ingresso na universidade prejudicado pela crise da Covid-19", diz nota assinada por 11 reitores e diretores

O ministro Abraham Weintraub - Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
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Reitores e diretores de onze universidades e instituições de ensino públicas do Rio de Janeiro soltaram uma nota conjunta nesta sexta-feira (8) contrariando o ministro da Educação, Abraham Weintraub, e cobrando o adiamento do Exame Nacional do Ensino Médio, previsto para novembro, em razão do isolamento social determinado por conta da pandemia do coronavírus.

"Os estudantes brasileiros em vulnerabilidade social lutam pela defesa de suas vidas, pelos cuidados com a saúde, o cuidado de seus familiares e seguindo as orientações de isolamento social reiteradas pelas autoridades sanitárias nacionais e internacionais. Milhões destes estudantes não têm acesso à tecnologia ou à internet o que impede ações pedagógicas similares ao cotidiano escolar com aulas presenciais", diz trecho da nota.

Representantes de UFF, UFRJ, UFRRJ, UNIRIO, UERJ, UEZO, UENF, CEFET/RJ, Colégio Pedro II, IFRJ e IFF assinam o documento. "É nosso compromisso que nenhum estudante tenha o seu ingresso na universidade prejudicado pela crise da Covid-19", afirmam.

Segundo eles, a manutenção do Enem é um "equívoco" promovido pelo MEC que ampliará as desigualdades de acesso ao ensino superior. Os reitores e diretores ainda "repudiam" a tentativa de "difundir uma sensação de normalidade falseada" em um momento de pandemia.

Weintraub se nega a adiar o exame e lançou uma propaganda na útima segunda-feira garantindo a manutenção das datas da prova.

Leia a nota na íntegra:

O Enem deve ser adiado

Nós, dirigentes máximos das Instituições Públicas de Ensino no Estado do Rio de Janeiro, engajados em planejar regras seguras de pós-confinamento, protocolos de convivência e de saúde dentro de um cenário de notório descontrole pandêmico e colapso das redes hospitalares que mais nos aproxima de “lockdown” nas principais regiões do país, assistimos com perplexidade e desaprovação a decisão de manutenção do calendário do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) – 2020, conforme a publicação do edital n°25, de 30 de março de 2020, divulgada pelo site do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP).

Neste momento o Brasil contabiliza mais de 120.000 casos de contaminação e 8.000 mortos, com ameaça de novos e futuros ciclos pandêmicos e onde o tempo de isolamento social não pode ser seguramente definido.

É crível que estes indicadores se tornarão maiores nas próximas semanas e com eles a desigualdade social já tão evidente em nosso cotidiano.

Por outro lado, os estudantes brasileiros em vulnerabilidade social lutam pela defesa de suas vidas, pelos cuidados com a saúde, o cuidado de seus familiares e seguindo as orientações de isolamento social reiteradas pelas autoridades sanitárias nacionais e internacionais. Milhões destes estudantes não têm acesso à tecnologia ou à internet o que impede ações pedagógicas similares ao cotidiano escolar com aulas presenciais.

Vários países como a China, EUA, França e Inglaterra adiaram seus exames nacionais para acesso ao ensino superior por acreditarem ser a decisão mais legítima e democrática a ser tomada neste momento pandêmico.

Neste diapasão, repudiamos qualquer tentativa de difundir uma sensação de normalidade falseada como a manutenção do cronograma do Exame Nacional do Ensino Médio/ENEM 2020 o qual, caso mantido, ampliará as desigualdades de acesso ao ensino superior.

Repelimos também a retórica contida na propaganda oficial e difundida por diferentes mídias que foram utilizadas para divulgar o cronograma do ENEM.

Finalmente, reiteramos a importância fundamental das Universidades Públicas, dos Institutos Federais, dos Centros Federais de Educação Tecnológica e do Colégio Pedro II que, no cumprimento de sua missão social, acadêmica e científica, a despeito das adversidades, se constituem como referência educacional e científica no país, na América Latina e no mundo. É nosso compromisso que nenhum estudante tenha o seu ingresso na universidade prejudicado pela crise da Covid-19.

Assim, solicitamos ao Ministério da Educação que corrija o equívoco cometido ao não adiar o calendário do ENEM 2020 e postergue as datas de inscrição e a realização das provas, como recomendado inclusive pelo Conselho Nacional de Secretários da Educação (CONSED).

Rio de Janeiro, 8 de maio de 2020.

Antonio Claudio Lucas da Nóbrega (Reitor – UFF)

Denise Pires de Carvalho (Reitora – UFRJ)

Jefferson Manhães de Azevedo (Reitor – IFF)

Marcelo de Sousa Nogueira (Diretor Geral – CEFET)

Maria Cristina de Assis (Reitora – UEZO)

Oscar Halac (Reitor – Colégio Pedro II)

Rafael Barreto Almada (Reitor – IFRJ)

Raul Ernesto Lopez Palacio (Reitor – UENF)

Ricardo Luiz Berbara (Reitor – UFRRJ)

Ricardo Lodi Ribeiro (Reitor – UERJ)

Ricardo Silva Cardoso (UNIRIO)