Vinicius Wu: EleNão - É urgente entendermos as razões do voto em Bolsonaro

É preciso falar a língua do eleitor de Bolsonaro. Uma guerra de ideias pode se transformar numa guerra real a partir de sua eleição. É hora de lutarmos, sim, pela segurança de nossas famílias e dizer não à sua maior ameaça

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[caption id="attachment_140678" align="alignnone" width="640"] Foto: Reprodução/TV Globo[/caption] Por Vinicius Wu* Por incrível que pareça, ainda há quem subestime Bolsonaro. Não são poucas as vozes que, de dentro das campanhas de Haddad, Ciro ou Alckmin argumentam que basta passar ao segundo turno contra o candidato do PSL que a vitória será certa. A disputa, de fato, se daria apenas entre estes três e há até mesmo quem pense não ser interessante “bater” em Bolsonaro agora. Minha impressão é a de que este raciocínio pode nos levar a uma tragédia de grandes proporções. Mas, o desastre que seria a eleição de Bolsonaro ainda pode ser evitado. Será preciso, no entanto, abandonarmos a ideia de que a disputa contra Bolsonaro opõe “inteligentes a ignorantes”, “bons e maus”, “humanistas e trogloditas”. Será preciso, também, que nos iludemos um pouco menos com os resultados obtidos por iniciativas que atingem apenas nossos círculos mais próximos. Desde 2016, busco acompanhar, compreender e analisar o eleitor de Bolsonaro – através de grupos de WhatsApp, perfis bolsonaristas em redes sociais, conversas com seus eleitores, pesquisas qualitativas, quantitativas, análise de redes sociais etc. e percebo que toda vez que há um ataque do “mundo civilizado” contra Bolsonaro, ele ganha um pouquinho mais de espaço junto ao senso comum. É o irmão que convence a irmã. O vizinho que convence o vizinho. O colega de trabalho que convence um de seus pares de que ele está sendo “perseguido”, atacado pelos “políticos”, mídia e pelos “poderosos”. Tenho visto isso todos os dias. É uma turma que se sente excluída dos círculos “inteligentes” (e que alimenta grande rancor em relação a estes), que anda de saco cheio de tudo, que quer que tudo se exploda e que haja uma verdadeira mudança no país. A campanha #EleNao tem sido linda, importante, necessária, mas, é importante entendermos que ela cria também um efeito do lado de lá, pequeno, silencioso. E é assim que “ele” segue crescendo, um, dois, três pontos percentuais a cada pesquisa. Para desconstruir Bolsonaro não bastará envergonhar seu eleitor, afinal, ele estará sozinho no momento da votação – e temo, inclusive, pelo voto envergonhado, que só se manifestará na solidão das urnas. Já acompanhei vários grupos de foco em pesquisas qualitativas nos quais o comportamento do eleitor de Bolsonaro diante das críticas que seu candidato recebia, era simplesmente o de se calar e, ao final, reafirmar seu voto. Era como se nenhuma das críticas fosse relevante. Nenhuma das bobagens ou atrocidades ditas pelo “mito” faziam diferença. E por que? Creio que, em grande medida, o eleitor de Bolsonaro se crê portador de uma verdade, de um raciocínio que os que se julgam mais “inteligentes” não são capazes de apreender. Eles parecem ter descoberto que todos nós fomos enganados durante décadas por mentiras produzidas pela “esquerda” e veiculadas por uma mídia dominada por “interesses” contrários aos seus. Bolsonaro, então, é o porta-voz dessa verdade e é o único que pode enfrentar esta grande farsa e mudar o Brasil com base nisto. Há aí um misto de desconfiança frente à grande mídia, rejeição aos valores “esquerdistas” e uma decidida busca por segurança, estabilidade e certezas em meio a um mundo inseguro, que não oferece nenhuma garantia de felicidade e melhoria das condições de vida. A despeito do que previa a esmagadora maioria dos analistas políticos, Bolsonaro segue crescendo – pouco, mas cresce. O mundo ilustrado prometeu o “derretimento” de Bolsonaro nos primeiros dias de campanha eleitoral na TV. A mesma promessa já havia sido feita antes. Para alguns, bastava deixar o capitão falar que o racional eleitor brasileiro logo o descartaria. Não parece ter sido assim. Se quisermos bloquear o crescimento de Bolsonaro e evitar sua vitória será preciso demonstrar, principalmente, aos que ainda não aderiram a ele que é possível trilhar outro caminho para alcançarmos segurança física, econômica e moral. E que, na verdade, Bolsonaro seria o ponto culminante do caos, da insegurança e da dissolução de valores éticos e morais. O candidato do PSL promete segurança aos seus seguidores. É preciso mostrar que sua eleição representaria, exatamente, o contrário. A batalha contra Bolsonaro não é uma luta de “inteligentes” contra “ignorantes”. É uma disputa decisiva para restaurarmos patamares mínimos de civilidade política, de coesão social e estabilidade institucional. Com Bolsonaro no governo, facadas, Marielles e tiros em caravanas se tornarão prática comum da política brasileira. Traficantes vão aumentar sua beligerância contra policiais. E no campo econômico, os mais pobres e a classe média pagarão a conta. É hora de falarmos do medo. Do terror que seria um governo Bolsonaro. Campanhas bonitinhas em redes sociais não são capazes de dar a exata dimensão do que seria esta tragédia para o país, nossos filhos, nossas famílias. É preciso falar a língua do eleitor de Bolsonaro. Uma guerra de ideias pode se transformar numa guerra real a partir de sua eleição. É hora de lutarmos, sim, pela segurança de nossas famílias e dizer não à sua maior ameaça. *Vinicius Wu é mestre em Comunicação Social pela PUC-Rio e diretor do Instituto Novos Paradigmas