“Viola Perfumosa”, de Ceumar, Paulo Freire e Lui Coimbra resgata a obra de Inezita Barroso

O disco é conduzido em formato de prosa, com direito a “causos”, conversas e cacos, mas sem com isso perder, em momento algum, um grande rigor na execução. É um primor, pra dizer o mínimo

Capa de Viola Perfumosa. Foto: Divulgação
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O álbum é um primor, pra dizer o mínimo. Nele, estão reunidos quatro grandes talentos da nossa canção popular. Um deles em merecida homenagem e os outros três atuando, cantando e tocando. A homenageada é a grande dama da música caipira Inezita Barroso. Os “cantautores” são a cantora e violonista Ceumar; o violeiro, contador de causos, compositor e cantor Paulo Freire e o violoncelista e cantor Lui Coimbra. O álbum, batizado de “Viola Perfumosa”, é basicamente executado pelos três, contando apenas com o pandeiro de Marcos Suzano aqui e acolá. A instrumentação, toda ela conduzida basicamente pela viola de Paulo Freire, o violão e as percussões de Ceumar, o violão, violoncelo, rabeca e charango de Lui Coimbra, tem trejeitos de música de câmera. O disco é conduzido em formato de prosa, com direito a “causos”, conversas e cacos, mas sem com isso perder, em momento algum, um grande rigor na execução. [caption id="attachment_141624" align="alignnone" width="467"] Lui Coimbra, Ceumar e Paulo Freire. Foto: Divulgação[/caption] O repertório é todo formado por sucessos gravados por Inezita Barroso. Isto significa um apanhado muito significativo de canções tradicionais de várias partes do Brasil. Peças que, se hoje são clássicos absolutos e fazem parte do consciente coletivo do nosso povo, devem isso às interpretações antológicas de Inezita. Como diz o texto de divulgação do álbum, “a cantora, atriz e pesquisadora atravessou as últimas seis décadas como a mais importante voz na defesa da música realmente popular e do folclore brasileiro. Inezita foi uma das responsáveis por resgatar a música caipira, redimensionando-a como um produto de valor artístico incontestável”. Canções como “Luar do Sertão”, de Catulo da Paixão Cearense e João Pernambuco; “Índia”, de Manuel Ortiz Guerrero e José Asunción Flores, com versão de José Fortuna; “Oi Calango Ê”, de Hervé Cordovil; a antológica “Moda da Pinga”, de Ochelsis Laureano; “Bolinho de Fubá”, de Edvina de Andrade entre muitas outras são entremeadas de “causos” narrados de maneira magistral por Paulo Freire. Feito alunos aplicados e extremamente talentosos, os três autores de “Viola Perfumosa” remetem, em suas interpretações, as nuances e tons de Inezita, seu bom humor e paixão pelas obras, ritmos e tradições. A interpretação de Ceumar para a “Moda da Pinga” é magistral. O duo de vozes masculinas evoca os grandes conjuntos vocais, como o Bando da Lua e os diálogos são impagáveis. O álbum é comovente, divertido e lírico. A interpretação de “Horóscopo”, por Paulo Freire é hilária e nos remete à sua obra, repleta de prosas e “causos”. O toque camerístico, que nos aponta o grande diálogo que a obra de Villa-Lobos tem com a cultura popular, é dado por Lui Coimbra. Entre a homenagem a o apuro artístico, o grande instrumentista constrói o caminho inverso e devolve a Villa-Lobos a homenagem. Poderia passar páginas e páginas de adjetivos sobre “Viola Perfumosa”, sua qualidade e importância para a nossa cultura em tempos tão bicudos e, sobretudo, o quanto esse lindo disco nos traz de alento e esperança. Mas o melhor mesmo é deixar pra vocês. Vai ouvindo...