2020 termina, e os bons ventos vieram da Argentina

Aborto legal, taxação das grandes fortunas, legalização do autocultivo de maconha medicinal e início da vacinação foram algumas conquistas dos “hermanos” argentinos

(Foto: Ni una menos)
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A dois dias deste ano desafiador terminar, a Argentina aprovou a descriminalização do aborto no país até a 14ª semana de gestação. Nenhuma mulher do país precisará mais recorrer a procedimentos clandestinos e perigosos para interromper uma gestação indesejada e nem levá-la adiante forçadamente e muito menos ser presa por isso. “Ser obrigada a gestar uma gravidez completa quando não desejada é um ato de tortura”, disse a senadora Ana Almirón.

“O aborto seguro, legal e gratuito é lei. Prometi fazê-lo nos dias de campanha eleitoral. Hoje somos uma sociedade melhor, que amplia os direitos das mulheres e garante a saúde pública”, afirmou o presidente da Argentina, Alberto Fernández.

A aprovação foi fruto de muita luta do movimento feminista argentino, que nesta terça (30) lotou as ruas para acompanhar a votação. Em 2018, a medida tinha sido rejeitada pelo Senado. Mas neste ano, veio a conquista histórica. Na América Latina, somente Uruguai, Cuba, Guiana, Guiana Francesa e Porto Rico permitem interrupção nas primeiras semanas da gestação pela escolha da mulher. No México, onde cada estado tem sua legislação, é permitido na Cidade do México e em Oaxaca.  

No Brasil, onde cresce o número de pessoas que não querem se vacinar, essa pauta parece estar longe demais para ser conquistada. Neste ano, grande parte do país ficou chocada com os protestos contra o aborto de uma criança de dez anos que havia sido estuprada pelo tio. Por que essas pessoas defendem seu “direito individual” de não tomar vacina e, em geral, são contra o direito de uma mulher decidir sobre o seu próprio corpo?

Na Argentina, no mesmo dia em que o aborto legal foi aprovado, teve início a vacinação contra o coronavírus. O país comprou 300 mil doses do imunizante russo Sputnik V, que já começaram a ser distribuídas para os profissionais de saúde.

Por aqui, o presidente Bolsonaro insiste na desinformação em relação às vacinas. Pesquisa PoderData, realizada entre 20 e 23 de dezembro, mostra que a rejeição a uma vacina contra a Covid-19 cresceu 9 pontos percentuais em cerca de um mês, indo de 19% para 28%. “Lá no contrato da Pfizer, está bem claro nós (a Pfizer) não nos responsabilizamos por qualquer efeito colateral. Se você virar um jacaré, é problema seu”, disse, em 18 de dezembro, colocando em dúvida a eficácia do imunizante.

E, voltando aos argentinos, há mais a comemorar. Em 5 de dezembro, o país aprovou a taxação de grandes fortunas, que consiste na criação de um imposto para financiar a luta contra Covid. Somente patrimônios acima de 200 milhões de pesos (cerca de 13 milhões de reais) terão uma taxa que varia entre 2% e 3,5%.

Em novembro, mais duas medidas: Fernández anunciou um aumento aos aposentados e legalizou o autocultivo de maconha para uso medicinal. As pessoas que precisam plantar para fins terapêuticos podem agora fazê-lo legalmente. A cannabis medicinal é usada para tratamento de muitas doenças, como câncer, dor crônica, epilepsia e glaucoma.

Que os bons ventos dos “hermanos” cheguem por aqui também, a começar pela vacina para vencermos a pandemia.

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