A CPI da Covid-19 e os crimes de Bolsonaro – Por Raimundo Bonfim

Desde que a pandemia chegou ao nosso país, em fevereiro de 2020, não houve sequer uma ação do presidente de enfrentamento ao vírus e de proteção ao povo. Ao contrário, ele sabotou as medidas protocolares

Foto: Twitter (Reprodução)
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Depois de cerca de seis meses de funcionamento da CPI da Covid-19 no Senado, de um trabalho extraordinário de levantamento de provas documentais e de depoimentos, foi apresentado o resultado que já denunciávamos: o presidente Jair Bolsonaro é criminoso. É responsável pela perda de mais de 607 mil vidas, é responsável pela maior tragédia sanitária do Brasil. A lista aponta ainda mais 79 criminosos e a CPI recomenda o indiciamento de todos, entre eles, os três filhos do presidente: Flávio, Eduardo e Carlos Bolsonaro e do ex-ministro da Saúde, Eduardo Pazuello.

Esperava-se que o presidente fosse acusado de genocídio e de homicídio, porém os crimes imputados a Bolsonaro e aos seus ministros são gravíssimos. A CPI da Covid-19 fez um trabalho minucioso que merece nosso reconhecimento, mostrou que desde o início da pandemia Bolsonaro se empenhou em cometer crimes que trouxeram consequências irreparáveis ao povo. A aprovação do relatório de 1.200 páginas, em uma sessão histórica, por 7 votos a 4, imputou nove crimes a Bolsonaro que, segundo membros da comissão, podem lhe render ao menos 78 anos de prisão, além de um pedido ao Supremo Tribunal Federal (STF) para afastá-lo das redes sociais, por ele ter, novamente, disseminado fake news, ao relacionar a vacina da Covid-19 à Aids. Bolsonaro precisa ser banido não só das redes sociais, precisa ser banido da Presidência da República, pelos crimes em série e diários que comete contra a vida das pessoas.

O negacionismo do presidente e sua gestão desastrosa frente à pandemia, que trouxeram tanta dor e tristeza para milhões de pessoas, com vidas ceifadas, desesperançam milhares de famílias que perderam seus entes queridos. Entre os crimes imputados a Bolsonaro estão: crime contra a humanidade, crime de infração de medidas sanitárias preventivas, crime de epidemia com resultado de morte, crime de charlatanismo. Não há mais nada a esperar, o afastamento do presidente é urgente!

Desde que a pandemia chegou ao nosso país, em fevereiro de 2020, não houve sequer uma ação do presidente de enfrentamento ao vírus e de proteção ao povo. Ao contrário, ele sabotou as medidas protocolares tomadas por governadores e prefeitos, não seguiu as orientações de cientistas, especialistas e profissionais da saúde, e fez conluio com empresários de planos de saúde e laboratórios contra a prioridade da vida, estimulando o uso de medicamentos não recomendados para o tratamento do vírus, e retardou ao máximo a compra de vacinas. O atraso da imunização prolongou o período da pandemia, o que levou à morte de milhares e impactou negativamente a economia, gerando desemprego, fome e pobreza.  

O negacionismo de Bolsonaro impactou não só na saúde, com a perda de vidas e sofrimento de quem ficou com as sequelas da doença, mas todas as áreas foram afetadas negativamente e os resultados são desastrosos. Em um momento em que o país mais precisava, o governo Bolsonaro cortou o orçamento e paralisou políticas públicas. Enquanto a pandemia atingia altíssimos números de mortos e contaminados, o benefício do auxílio emergencial, que já era insuficiente, excluiu milhares de pessoas e ainda foi reduzido. Pequenos e microempresários reduziram o quadro de funcionários; os comerciantes, principalmente os das periferias, que empregam e contribuem significativamente para o fomento da economia local, não tiveram nenhum programa de incentivo do governo e foram obrigados a fechar seus negócios. Esses, somados a outros desmandos e descasos da pasta da Economia, comandada por Paulo Guedes, são responsáveis pelo desemprego histórico no país: 15 milhões de desempregados.

A crise econômica causada pelo governo Bolsonaro, que trouxe tanto desemprego, tem cobrado um preço alto da classe trabalhadora, que está com cada vez mais dificuldade de levar comida para a mesa. Hoje, 20 milhões de pessoas passam fome no país e a miséria e o número de pessoas em situação de rua cresceram. A combinação da alta de preços com o desemprego rebaixou o poder de compra da parcela mais pobre da população, para a qual os alimentos subiram quase 40%, metade desse percentual nos últimos 12 meses. Pesquisa recente da Fundação Getúlio Vargas (FGV) aponta que a população mais pobre, cerca de 27,4 milhões (13%), vive hoje com menos de R$ 261 ao mês. É a maior taxa de pessoas na linha da miséria em uma década. Para muitas famílias ficou impossível pagar aluguel e não teve outro jeito, tiveram que ir para a rua. O presidente tirou a comida do prato do povo e o jogou na rua: esse é um dos impactos dos crimes cometidos por Bolsonaro.

A pandemia e a política ultraneoliberal de Paulo Guedes e Bolsonaro aprofundaram a desigualdade e a concentração de riqueza sob a hegemonia do capital financeiro. Em meio à crise sanitária da pandemia, acentuaram-se os ataques à democracia, à ciência; Bolsonaro deu continuidade ao golpe iniciado por Temer, elevando o processo de privatizações, perdas de direitos e desmonte das políticas públicas. E no governo Bolsonaro vivenciamos um espantoso crescimento do racismo, do machismo, do genocídio da população negra, pobre e periférica, e fortes ataques ao meio ambiente, repressão e criminalização dos povos indígenas e comunidades quilombolas.     

Bolsonaro é genocida sim! Estimulou o descumprimento de medidas sanitárias preventivas à Covid-19, deixou que faltasse oxigênio nos hospitais, incentivou o uso de medicamentos comprovadamente ineficazes contra a doença, retardou a compra de vacinas. Houve um verdadeiro esquema criminoso contra o povo.  É inadmissível, inaceitável que, enquanto as pessoas morriam por falta de oxigênio e nas filas dos hospitais, Bolsonaro fazia passeios de moto e zombava do sofrimento dos doentes e dor das famílias enlutadas.

Enquanto a doença se alastrava, causando angústia, medo e desespero, Bolsonaro atrasava a compra das vacinas e havia articulação para a corrupção na compra dos imunizantes, como aponta o relatório da CPI. A última apuração da comissão revelou o conluio mafioso do governo com a operadora de saúde Prevent Senior, que medicou doentes com o chamado Kit Covid, tão propalado por Bolsonaro, mas comprovadamente ineficaz no tratamento da doença, e ocultou a causa mortis de pacientes por Covid, ocorridas nas dependências de seus hospitais, fato semelhante aos métodos nazistas ocorridos entre 1933 e 1945, na Alemanha controlada por Adolf Hitler.

O relatório foi encaminhado à Procuradoria Geral da República (PGR). Cabe ao procurador-geral, Augusto Aras, levar adiante as investigações sobre os indiciados com foro privilegiado, como o presidente Jair Bolsonaro, ministros e parlamentares federais, oferecendo denúncia ao Supremo Tribunal Federal (STF). Augusto Aras tem a obrigação e o dever legal de denunciar Bolsonaro e todos os indiciados para que sejam processados e condenados pelos crimes cometidos. Nossa tarefa agora é pressionar pelo oferecimento da denúncia, não aceitaremos que o procurador-geral Augusto Aras engavete as provas dos crimes conta vida e a saúde pública. Nós não vamos parar as mobilizações nas ruas e nas redes pelo afastamento de Bolsonaro da Presidência da República. O Brasil precisa urgente de um novo governo, com um programa político e econômico que revogue o teto de gastos, o desmonte dos direitos trabalhista e previdenciário, que retome o crescimento econômico, a soberania, o restabelecimento da democracia e combata a desigualdade social, o racismo e a violência de gênero.  

**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.